Nó no cérebro

A imagem aí de cima é daquelas que confundem o cérebro. Confunde mesmo, pois é uma ilusão de ótica. A imensa maioria das pessoas vê de cara um rosto desfocado no centro. Mas é possível notar, com bastante atenção, outra imagem: dois rostos – de um homem e de uma mulher – próximos, pré-beijo.

Essa imagem está entre as dez escolhidas pelo concurso anual de ilusão de ótica promovido pela The Neural Correlate Society, instituição que divulga iniciativas de divulgação da neurociência.

As outras ilusões do ranking tendem a brincar com cores e movimentos de desenhos, como pontos ou traços coloridos. A ideia central é mostrar que o nosso cérebro, diante de determinadas imagens, pode ser ‘enganado’, induzido a ver o que nem sempre é ‘a verdade’ das figuras expostas.

Por exemplo: a dubiedade gerada pela imagem que abre este texto tem uma explicação científica. Segundo os criadores da ilusão, o ornamento que serve como moldura para o rosto diz para o cérebro ‘juntar’ as imagens, de modo a nos fazer reconhecer apenas uma face.

Uma vez detectados os dois rostos, nossa consciência visual tende a flutuar pelas duas imagens, reconhecendo a figura como algo contraditório, ambíguo.

Veja abaixo a ilusão de ótica que ganhou o primeiro lugar. Centre-se na bola branca, no meio da animação.  Acredite, as bolas a sua volta não param de piscar em momento algum. No entanto, o movimento que elas passam a fazer num determinado instante leva a essa interpretação equivocada.

A ilusão de ótica campeã é conhecida como ‘cegueira de mudança’ (change blindness, em inglês). Seus autores acreditam que o fenômeno ocorre porque áreas específicas do cérebro monitoram locais diferentes no nosso campo de visão. Quando um objeto se move rapidamente, detectores locais podem não ter tempo de registrar mudanças súbitas nesse mesmo objeto.

No caso específico da imagem vencedora, o truque está na sensação criada pelo movimento repentino das bolas: enquanto se movem, elas piscam e mudam de cor, mas nosso cérebro não registra a ação em função da velocidade do deslocamento das bolas.

Veja mais ilusões de ótica premiadas pelo concurso.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line