Palavras retribuídas

Hoje foi dia de luto e homenagem. Morreu, aos 73 anos, o escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar, dono de extensa bibliografia, que incluía romances, crônicas e ensaios – muitos destes últimos falavam de saúde pública, um dos temas de sua predileção.

Scliar faleceu na madrugada de domingo, após dias de luta para se recuperar de um AVC sofrido no dia 17 de janeiro, quando repousava no hospital após retirada de um pólipo intestinal.

A tristeza geral, o lamentar nas redes sociais e as homenagens dão conta de quanto o escritor era querido. Jornais como o Zero Hora, Folha de S. Paulo (dos quais o escritor era colunista) e Estado de S. Paulo publicaram textos singelos e elogiosos sobre Scliar.

Sujeito unanimemente gentil, talentoso e profícuo, Scliar vai e deixa sua memória em diversas áreas. Da literatura infantil à análise de questões religiosas – sobretudo as judaicas.

Scliar era um dos mais celebrados escritores brasileiros contemporâneos. Ganhou três prêmios Jabuti e, desde 2003, fazia parte da Academia Brasileira de Letras.

Para nós da CH fica a lembrança, sobretudo, do médico e conscientizador de assuntos sobre a saúde pública. Ele nunca deixou de tratar do tema. Tanto que, em 2002, concluiu doutorado em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz.

Mesmo quando escrevia ficção, Scliar falava, muitas vezes diretamente, de saúde. Sonhos tropicais (1992) e A majestade do Xingu (1997) são baseados, respectivamente, nos sanitaristas Oswaldo Cruz e Noel Nutels.

Muito provavelmente o texto em que Scliar tocou mais certeiramente a medicina foi o ensaio A paixão transformada: história da medicina na literatura (1996), em que trata das dores e delícias da profissão que escolheu.

Assista à recente entrevista de Moacyr Scliar no
programa Roda Viva, da TV Cultura

Tivemos o prazer de ter Scliar conosco na comemoração dos 20 anos da revista Ciência Hoje, em 2002. Na edição da CH em comemoração à data (PDF), o escritor fez honroso comentário sobre a publicação.

“Divulgar a ciência, em um país como o Brasil, é uma tarefa urgente e absolutamente prioritária – uma tarefa para hoje, não para amanhã. E é isto que Ciência Hoje vem fazendo com competência e seriedade, há 20 anos. Nestas duas décadas, a Ciência Hoje ajudou a introduzir a linguagem da ciência no cotidiano dos brasileiros. Seu aniversário é mais que um evento: é uma celebração”, disse, na ocasião, Moacyr Scliar.

Hoje, dia em que a comunidade de escritores e cientistas lamenta seu falecimento, retribuímos o elogio e fazemos homenagem: Scliar também ajudou a introduzir, com simplicidade, generosidade e talento, temas científicos no cotidiano do brasileiro.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line