“As pessoas geralmente culpam as indústrias pelos problemas ambientais. Os resultados desse estudo sugerem que estilos de vida cada vez mais comuns como o divórcio contribuem significativamente para essa questão”, diz à CH On-line Jianguo Liu, pesquisador do Centro para Integração de Sistemas e Sustentabilidade da Universidade do Estado de Michigan. “Em resumo, o divórcio tem um custo não só monetário, mas também ambiental”, conta Liu, co-autor do estudo, publicado na PNAS desta semana.
O divórcio está contribuindo para um uso menos eficaz dos recursos naturais (foto original: Jon Ng).
Devido a fatores como o divórcio, o número de lares no mundo tem crescido mais rapidamente do que a população. Nos Estados Unidos, o percentual de lares em que vivem pessoas divorciadas cresceu de 5% em 1970 para 15% em 2000, um aumento de 3,4 milhões para 15,6 milhões. Mesmo na China, onde as separações são incomuns, esse fenômeno tem aumentado repentinamente: foram 1,6 milhões de divórcios em 2004, 1,7 milhões em 2005 e 1,9 milhões em 2006.
Os dados da pesquisa mostram que, em lares de divorciados, o número de pessoas é menor, o que contribui para reduzir a eficiência no uso de recursos (como água, eletricidade e terra) por pessoa. “O divórcio geralmente leva o cônjuge a se mudar e formar um novo lar, o que aumenta o uso de materiais e terra”, dizem os autores no artigo. Além disso, quando o divórcio ocorre, alguns itens compartilhados são descartados e novos produtos são adquiridos.
Mas os pesquisadores ressaltam que outros modos de vida alternativos, como os de casais que vivem separados e solteiros que adiam o casamento, podem criar impactos ambientais similares.
Pesquisa em 12 países
A equipe comparou, com base em dados de um censo social e econômico internacional, o número médio de pessoas em casa e o número de quartos por pessoa em lares de casados e divorciados em 12 países – incluindo o Brasil – entre 1998 e 2000. A análise mostra que havia de 1,1 a 1,8 pessoas a menos em um lar divorciado habitual do que em um lar de casados, uma redução de 27% a 41%.
Essa diminuição na quantidade de pessoas por casa está associada a um aumento de 33% a 95% no número de quartos por pessoa em lares de divorciados em relação aos de casados. Nos Estados Unidos, mais de 38 milhões de quartos extras foram usados; em países menos desenvolvidos, esse número foi de aproximadamente 8,4 milhões.
Para a análise, a equipe também acompanhou uma amostra de 3.283 lares nos Estados Unidos entre 2001 e 2005. Além da queda no número total de pessoas em casa e do aumento no número de quartos por pessoa, eles verificaram que os lares norte-americanos que passaram por um processo de divórcio nesse período usaram de 42% a 61% mais recursos por pessoa do que antes da sua dissolução.
Em relação aos gastos com eletricidade e água, por exemplo, houve durante o ano de 2005 um acréscimo de 53% e 42%, respectivamente. Segundo os cientistas, naquele ano, mais de 73 bilhões de kilowatt-horas de eletricidade e 2,4 trilhões de litros de água poderiam ter sido poupados nos Estados Unidos se a eficiência no uso de recursos em lares de divorciados fosse comparável à de lares de casados. O fato de o chefe do lar se casar outra vez elimina a demanda extra por recursos.
Mais resíduos
Por causa do consumo maior por pessoa, um indivíduo em um lar divorciado pode também gerar mais resíduos (sólidos, líquidos e materiais gasosos, como gases do efeito estufa), que contribuem para as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. “Apesar de os resíduos não terem sido analisados no estudo, outras pesquisas mostram que o lixo por pessoa aumenta com a queda no número de pessoas de uma casa”, acrescentam os autores. E completam: “Também é possível que as visitas entre pais divorciados e seus filhos aumentem o consumo de energia e as emissões de gases do efeito estufa.”
Os pesquisadores recomendam que os governantes considerem o custo total do divórcio na elaboração de políticas ambientais. “Os governos podem e devem fazer muita coisa, por exemplo: educar os cidadãos e fornecer informação sobre os impactos ambientais do divórcio; estender o período de espera antes do divórcio para dar às pessoas mais tempo para considerar suas decisões e reduzir a probabilidade de divórcio; e providenciar incentivos tributários para pessoas divorciadas se casarem novamente ou morarem juntas caso o divórcio seja inevitável.”
Além da importância da implementação de políticas efetivas para minimizar a dissolução dos lares, os cientistas destacam a necessidade de melhorar a eficiência no uso de recursos nas casas de divorciados. “Manter um modo de vida eficiente no uso de recursos ajuda a diminuir os gastos nos lares, reduzir a expansão urbana e alcançar a sustentabilidade ambiental.”
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
03/12/2007