Pequenos prodígios

Uma pesquisa sobre substâncias cancerígenas do frango, um estudo para melhorar a qualidade de vida de pacientes asmáticos e a descoberta de uma maneira de tornar mais eficiente o tratamento do câncer de ovários. Ninguém se surpreenderia se essas pesquisas tivessem sido feitas em universidades por cientistas formados.

Mas, acredite, elas são fruto do trabalho de três meninas do ensino fundamental e médio que venceram a Google Science Fair, uma feira de ciências virtual, lançada em janeiro, que reuniu mais de 10 mil crianças e adolescentes de 91 países diferentes.

Os participantes tiveram até abril para enviar seus projetos em forma de vídeo ou relatório, ambos em inglês. Os inscritos foram divididos em três categorias de acordo com a idade (13-14 anos, 15-16 e 17-18) e os vencedores foram anunciados em julho, em cerimônia na sede do Google no Vale do Silício, Califórnia (Estados Unidos).

Embora o Google seja uma empresa de tecnologia, as três vencedoras – todas dos Estados Unidos – apresentaram trabalhos na área de ciências biomédicas. Lauren Hodge, de 13 anos, estudou o potencial cancerígeno de diferentes formas de preparo de frango grelhado e descobriu que o limão e o açúcar mascavo inibem as substâncias carcinogênicas da ave, enquanto o molho de soja (shoyu) as potencializa. 

Já Naomi Shah, 16 anos, filha de indianos, acompanhou 103 pessoas com asma por um ano para provar que a melhoria da qualidade do ar dentro de casa pode diminuir a necessidade de medicamentos usados por quem tem a doença. Além disso, a menina desenvolveu um dispositivo on-line para medir o efeito do ambiente na respiração do asmático.

Também de origem indiana, Shree Bose, de 17 anos, foi a grande vencedora da feira. Ela levou a premiação em sua categoria e também pelo melhor projeto de todo o concurso.

Shree pesquisou sobre o câncer de ovário e apresentou uma maneira de impedir que o paciente se torne resistente à cisplatina, uma das drogas quimioterápicas mais usadas no tratamento da doença.

Em entrevista à CH On-line, a estudante contou que começou a pesquisa há dois anos, quando o avô morreu de câncer de pulmão. Na época, Shree foi escolhida entre os 30 finalistas do Programa Nacional de Ensino Secundário da Sociedade para Ciência e Público, dos Estados Unidos, e resolveu investir nessa área de estudo.

“O melhor a se fazer é encontrar uma área de interesse, você nunca vai desistir de trabalhar em sua paixão”

“Encontrar tanta gente tão nova que já tinha começado a fazer pesquisa de nível de faculdade me inspirou a pesquisar”, disse. Depois dessa experiência, Shree começou a enviar e-mails para vários cientistas que pesquisavam câncer até que a bioquímica Alakananda Basu, do Centro de Ciências de Saúde UNT, a convidou para estagiar em seu laboratório durante as férias de verão.

“Lá eu tive a maravilhosa oportunidade de desenvolver minha pesquisa e interagir com pessoas de vasto conhecimento na área”, contou a estudante, que avisou: ainda existe muito para se estudar em seu projeto e a pesquisa vai continuar.

Como prêmio, a menina ganhou do Google uma bolsa de estudos de 50 mil dólares, um estágio no laboratório de partículas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) , na Suíça, e uma viagem de 10 dias às Ilhas Galápagos, famosas pela sua biodiversidade.

Shree, que já participou de outras cinco feiras de ciências internacionais este ano, dá um conselho aos demais jovens interessados em ciências: “O melhor a se fazer é encontrar uma área de interesse, você nunca vai desistir de trabalhar em sua paixão”.

Nem tão multinacional

Apesar de ter reunido estudantes de diferentes países, a diversidade de nacionalidades não apareceu entre os finalistas e vencedores da feira.

A restrição do idioma dos trabalhos ao inglês talvez explique por que entre os finalistas 60% eram dos Estados Unidos e todos os demais países representados tinham o inglês como língua nativa ou secundária – Canadá, Inglaterra, África do Sul, Singapura e Índia.

Apesar de não constarem da lista dos semifinalistas ou finalistas, estudantes brasileiros também marcaram presença na feira. Três alunos de ensino médio do Colégio JK, em Brasília, submeteram um projeto de um braço robótico construído com o kit de robótica da Lego. A invenção tinha por intuito servir como prótese para deficientes físicos sem um dos braços.  

Vídeo: conheça os finalistas e as vencedoras da Feira de Ciências do Google


Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line