Pequi para quê?

Para quem é do Centro-oeste brasileiro, o pequi (Caryocar brasiliensis) é figura conhecida: a fruta grande, de casca verde e grossa, polpa amarela e caroço cheio de espinhos aparece misturada com arroz, no frango, em conserva e até no pão de queijo. 

Alguns também devem saber, como já foi noticiado na CH On-line, que as propriedades antioxidantes da polpa foram capazes de diminuir o número de mutações no DNA de culturas celulares e de ratos, causadas por substâncias quimioterápicas em testes in vitro e in vivo.

Mas isso tudo foi em 2004. Hoje, sete anos mais tarde, a mesma pesquisa está terminando seus testes com seres humanos, já registrou duas patentes e, em parceria com um laboratório farmacêutico, deve colocar as cápsulas de óleo de pequi à venda no Brasil como um nutracêutico – produto nutricional com substâncias terapêuticas.

Pequizeiro
Na foto, um pequizeiro. Pesquisadores irão registrar as cápsulas de óleo da fruta como nutracêuticos – produtos nutricionais com substâncias terapêuticas – e laboratório parceiro já está testando formas de produção industrial. (foto: Jmarconi/ CC BY-NC-AS 2.0)

Líder da pesquisa, o biólogo Cesar Koppe Grisolia, da Universidade de Brasília (UnB), contou, em conferência na 63ª Reunião Anual da SBPC – cujo tema central foi o cerrado –, que os testes com seres humanos revelaram que o óleo da polpa do pequi tem funções anti-inflamatórias e benéficas para o sistema cardiovascular – além da confirmação dos resultados obtidos com os testes anteriores.

Primeiro em atletas

Apesar de o potencial terapêutico do óleo de pequi ser promissor para portadores de lúpus e diabetes, por exemplo, Grisolia e sua equipe optaram por atletas maratonistas como os primeiros grupos de testes. “Eles sofrem alto grau de estresse físico, o que gera uma maior produção de radicais livres”, explica o biólogo.

Os 126 atletas voluntários tiveram amostras de sangue recolhidas antes e depois de duas maratonas. Nas duas semanas anteriores à segunda delas, tomaram cápsulas gelatinosas de óleo de pequi uma vez por dia. A ideia era analisar os radicais livres, mutações gênicas, pressão arterial e colesterol dos maratonistas.

Após ingeriram as cápsulas, os atletas tiveram menos inflamação muscular, menos danos no DNA e menos estresse oxidativo

Os testes mostraram que, após ingeriram as cápsulas, os atletas tiveram menos inflamação muscular, menos danos no DNA e nas células e menos estresse oxidativo. “O óleo do pequi é formado por compostos polifenois antioxidantes, que se juntam ao colesterol LDL e impedem que este gere radicais livres e forme placas de gordura no sangue”, resume Grisolia. 

As análises também mostraram que os atletas acima de 45 anos tinham produção de radicais livres mais altas. Embora os testes tenham sido positivos também com jovens, o óleo de pequi parece mais benéfico aos atletas mais velhos.

Agora, Grisolia e sua equipe estão testando a ingestão de cápsulas de óleo de pequi em 60 pacientes com lúpus. “Assim, comprovaremos se a substância de fato atua na redução de danos gênicos e celulares causados por radicais livres em pessoas com doenças que envolvem esses fatores”, explica o biólogo.

Isabela Fraga
Ciência Hoje/ RJ

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