Posição em campo determina desempenho físico de atletas


É ano de Copa do Mundo. Observar os embates em campo sob o prisma da ciência torna os 90 minutos de partida mais interessantes. Quem nos dá essa visão de jogo é Turíbio Leite de Barros Neto, fisiologista do São Paulo Futebol Clube e diretor do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Barros estudou o futebol brasileiro do ponto de vista das diferentes exigências físicas impostas aos jogadores. Ao lado do auxiliar de preparação física Wellington Valquer, o médico avaliou a performance de centenas de atletas de acordo com sua função tática. Os resultados compõem um grande leque de modelos de desempenho atlético para cada posição.

Romário, por Rubens Gerchman (reprodução / CH 139)

O estudo mostra que laterais e meio-campistas são os mais exigidos em campo e precisam de grande resistência física. Os laterais percorrem em média 9,7 quilômetros por jogo, e os meio-campistas, 9,9. Já os zagueiros possuem grande solicitação de saltos e ’corrida em marcha-a-ré’ e percorrem em média 8,8 km por partida. O desempenho dos atacantes, por sua vez, se caracteriza por corridas curtas de velocidade; sua média de quilômetros percorridos é de 8,2.

Por quatro anos Barros filmou os movimentos de 100 atletas do São Paulo, além de analisar resultados de testes físicos de cerca de 1000 jogadores que figuraram no time desde 1986. “As filmagens eram fechadas em um jogador específico durante uma partida”, conta. “No laboratório de vídeo, cada padrão de exigência física era anotado: via-se por quanto tempo o jogador andava, parava, corria em trote moderado ou em velocidade. O tempo anotado era transformado em distância percorrida.”

Barros comparou ainda o futebol brasileiro ao europeu. “Na Europa, a distância percorrida por jogo fica entre 12 e 14 km, no Brasil entre 8 e 10.” Contudo, não se pode dizer que o desempenho físico europeu seja superior ao brasileiro. “A temperatura amena da Europa proporciona um menor desgaste aos jogadores, e eles podem correr mais”, explica. “Além disso, o futebol brasileiro explora o talento, prende mais a bola.”

Ainda assim, a distância percorrida por nossos jogadores em uma partida aumentou de 20 a 30% nos últimos anos. “Se compararmos 5 minutos de um jogo da Copa de 70 com o mesmo tempo de um jogo atual, notaremos que hoje o jogador é mais exigido”, avalia o fisiologista. “O futebol está cada vez mais competitivo.” Distância percorrida não mede, no entanto, habilidade no esporte. “Enquanto um atacante normal percorre até 8,2 km por jogo, Romário, por exemplo, corre cinco. É sua habilidade que compensa.”

Os resultados do estudo vão orientar a elaboração de treinamentos direcionados, que otimizem a atuação de cada atleta. “Não só o goleiro deve receber treinamento diferenciado, mas os outros jogadores também”, aponta Barros. “Um preparo físico específico pode inclusive prevenir lesões em função de um treinamento inadequado.”

Elisa Martins
especial para a CH on-line
31/05/02