Prêmio irreverente diverte comunidade científica

Trecho de vídeo que mostra os participantes de um
jogo com bolas de basquete indiferentes à entrada
em cena de um gorila (vídeo: Daniel Simons)

Enquanto esperava pelo anúncio dos vencedores dos prêmios Nobel de 2004, a comunidade científica se divertiu com os laureados do Ig Nobel — distribuídos em 30 de setembro no Teatro Sanders, da Universidade Harvard. O evento, que já está em sua 14ª edição, é promovido tradicionalmente na semana que precede o Nobel pela revista de humor científico Anais da pesquisa improvável e homenageia estudos um tanto estranhos, “que não poderiam ou não deveriam ser reproduzidos”.

Entre os destaques deste ano, está Daisuke Inoue, de Hyogo, Japão, que recebeu o Ig Nobel da paz e foi saudado por uma serenata por ter inventado o karaokê e aumentado, assim, a tolerância entre as pessoas. Daniel Simmons e Christopher Chabris, das Universidades de Illinois e Harvard (EUA), demonstraram que pessoas muito concentradas numa tarefa tendem a ignorar qualquer outro acontecimento e receberam por isso o prêmio da psicologia.

Cinco pesquisadores levaram o prêmio de biologia, por seus estudos que esclareciam que a comunicação entre arenques é feita por puns ( clique aqui para ouvir o som desses peixes — arquivo wav de 130 KB reproduzido da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá).

Steven Sack, da Universidade Estadual de Wayne, e James Gundlach, da Universidade de Auburn (EUA), foram premiados com o Ig Nobel de medicina pelo estudo em que avaliam o efeito da música country nas taxas recorde de suicídio na cidade de Nashville (Tennessee, EUA), capital desse gênero musical.

Jillian Clarke, da Escola Técnica de Ciências Agrícolas de Chicago, testou a validade da chamada “regra dos cinco segundos”, que postula que é seguro comer um alimento que caiu no chão — desde que a ingestão ocorra dentro desse intervalo. Clarke levou o prêmio de saúde pública por comprovar a incoerência da regra.

Ilustração que integra o pedido de patente do
penteado combover, adotado para disfarçar a
escassez de cabelo dos calvos (reprodução)

O Vaticano foi contemplado na categoria economia, por terceirizar pedidos de missa para a Índia, onde elas são mais baratas. Donald J. Smith e seu falecido pai Frank, ambos de Orlando, levaram o prêmio de engenharia por patentear o combover — penteado utilizado por calvos para disfarçar a careca, que consiste em trançar os fios remanescentes e distribuí-los pela cabeça.

O prêmio da física foi concedido a Ramesh Balasubramanian e Michael Turvey, das Universidades de Ottawa (Canadá) e Yale (EUA), que descreveram a dinâmica dos movimentos com bambolês; o de química foi para a Coca-Cola do Reino Unido, por ‘purificar’ e engarrafar água do rio Tâmisa em um produto (Dasani) que teve seu consumo proibido por autoridades locais. O prêmio de literatura, por fim, coube à Biblioteca de Pesquisa Nudista Americana, na Flórida, por preservar a história do nudismo.

Os prêmios foram entregues por ilustres laureados do Nobel original, e os vencedores, ovacionados pela platéia de 1200 pessoas com uma enxurrada de gaivotas de papel. Apesar das palhaçadas, os participantes não se sentem ridicularizados por receber o Ig Nobel: ao contrário, consideram uma honra comparecer à cerimônia de entrega. Uma prova disso foi a presença de oito dos dez vencedores, vindos de diversas partes do mundo às próprias custas — apenas a Coca-Cola britânica e o Vaticano não enviaram representantes para receber o prêmio.

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
01/10/04