Quando encontrei Dumont e Lattes em Paris

A maioria das pessoas conhece o nosso mais famoso inventor: Alberto Santos-Dumont (1873-1932). Aqui em Paris, onde estou agora, ele fez muito sucesso no começo do século 20, com os seus balões e aviões. O mais famoso é o 14-Bis, que ele demonstrou a possibilidade de um dispositivo com densidade muito maior que a do ar levantar voo por conta própria. Já falei sobre isso em meu blogue pessoal em 2005: “A leveza do mais pesado que o ar”. Além disso, o modelo do Demoiselle ficou famoso e inspirou muito os atuais ultraleves.

Cesar Lattes (1924-2005) hoje é conhecido por muitos somente por causa do currículo, o que é um absurdo, pois ele foi um dos maiores físicos brasileiros de todos os tempos, descobridor de uma partícula elementar, o méson pi. Curiosamente, a descoberta de Cesar Lattes também começou na França. Ele estava trabalhando em 1947  no H. H. Wills Laboratory da Universidade de Bristol (Inglaterra), dirigida por Cecil Frank Powell (1903-1969), quando teve a ideia de aumentar a quantidade de boro nas chapas fotográficas que eram utilizadas para a detecção de partículas elementares. Ele entregou algumas dessas chapas para colegas que pretendiam esquiar na França. Ao voltar para a Inglaterra, um dos colegas notou as primeiras evidências da partícula que ficou conhecida posteriormente como  méson pi (ou píon).

Mas o que ambos têm  a ver com a minha passagem por Paris? Hoje, caminhando na direção do Institut des NanoSciences de Paris, que está na região de Boucicaut, enquanto ocorre a reforma do campus da Université Pierre et Marie Curie em Jussieu, na rue de Lourmel, dou de cara com a seguinte placa de dois médicos parisienses:

Dr. Dumont e Dr. Lattes
Dr. Dumont e Dr. Lattes, clínicos gerais, atendem em Paris (foto: Adilson de Oliveira).

Provavelmente esses médicos não são parentes de Santos-Dumont e Cesar Lattes e tampouco sabem que têm sobrenomes  de brasileiros famosos. Foi uma extraordinária coincidência topar com essa placa, que leva o nome de pessoas que foram importantes para inspirar a minha trajetória de vida, principalmente a de cientista, que me leva hoje a fazer essa caminhada  pelas frias ruas de Paris no outono de 2009.

 

Adilson de Oliveira
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos
[Publicado originalmente em
Por dentro da ciência]