Saúde na ponta dos dedos

O uso de aplicativos para tablets e celulares é uma realidade do mundo atual. E quando o assunto é saúde não poderia ser diferente. Há uma infinidade de programas voltados aos mais diversos fins.

Um bom exemplo é o brasileiro Virtual Check Up, que, com o apoio do Ministério da Saúde e de outras instituições de renome internacional, transmite gratuitamente aos usuários dados atualizados relativos a exames que devem ser feitos, assim como indicações de vacinas. Seu sistema funciona de acordo com a idade, o sexo e outras informações do paciente.

A médica dermatologista Tatiana Gabbi, da Universidade de São Paulo (USP), considera esse aplicativo um aliado dos médicos. “O Virtual Check Up é uma ferramenta desenvolvida por médicos clínicos que atuam em um hospital universitário dos Estados Unidos e visa auxiliar outros médicos a solicitarem, de acordo com o perfil do paciente que estiver diante deles, exames de checkup”, explica.

Aplicativo Virtual Checkup
O aplicativo Virtual Check Up recomenda vacinas ou exames para pacientes com base em informações como idade, sexo e condições de saúde. Seu objetivo é auxiliar na prevenção de doenças sem substituir a consulta médica. (imagens: reprodução)

Gabbi ressalta que, para determinar a confiabilidade de um aplicativo voltado à saúde, é necessário avaliar como ele foi desenvolvido. “É preciso saber quem esteve envolvido no projeto e quais são seus reais objetivos ao fazê-lo – geralmente essas informações estão disponíveis junto com o aplicativo”, comenta a médica. “No geral, há consulta de especialistas para o seu desenvolvimento.”

Observados esses pontos, a médica dermatologista apoia o uso de aplicativos por seus pacientes. “Esses aplicativos disseminam informações importantes de saúde e não devem ser tratados como uma ameaça”, afirma. “Pode ocorrer de algumas dessas informações estarem erradas, mas isso também acontece com livros e até artigos científicos publicados; com aplicativos não é diferente”, completa.

Outro aplicativo que Gabbi considera uma boa ferramenta para uso da população é o FotoSkin, gratuito e desenvolvido na Espanha. Ele auxilia na prevenção do câncer de pele, divulgando informações sobre pintas ou manchas suspeitas que podem aparecer no corpo (por exemplo, sinais que mudam de tamanho e de cor). Além disso, o sistema ajuda na identificação desse tipo de mancha por meio de fotos da pele do usuário, para que ele possa posteriormente procurar o dermatologista.

Médicos relegados?

Não é de hoje que o acesso às novas tecnologias está mudando a relação entre médicos e pacientes. A maior disponibilidade de informações tem levado a uma postura mais ativa dos doentes e a um diálogo mais embasado sobre os diagnósticos, acompanhados pela preocupação compreensível de que o papel do médico seja relegado.

Os aplicativos de saúde também não são unanimidade entre profissionais da área

Nesse contexto, os aplicativos de saúde também não são unanimidade entre profissionais da área. O dermatologista Dolival Lobão, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), por exemplo, é contra o seu uso. “O exame clínico da pele visando diagnosticar câncer ou qualquer outra dermatose é um ato médico; portando, cabe somente a um profissional realizá-lo”, enfatiza ele sobre o emprego do FotoSkin.

Muitos aplicativos, no entanto, pretendem ser parceiros dos médicos. É o caso do PA Kids, desenvolvido no Brasil e destinado a auxiliar pediatras no diagnóstico de hipertensão infantil, problema que cresce atualmente. Por meio da inserção de informações como sexo, idade, altura e valor da pressão arterial, o sistema aponta qual o estágio de hipertensão da criança ou adolescente. Além disso, em função dos níveis de pressão arterial do paciente, o aplicativo – que é pago – indica atividades que ele pode ou não realizar.

Segundo o cardiologista pediátrico Gustavo Foronda, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o PA Kids pode se tornar um aliado, mas deve ser usado com cautela. “Com o aumento na taxa de obesidade infantil, o diagnóstico de hipertensão pediátrica tem crescido”, comenta. “O aplicativo alerta para situações de risco de saúde e, por isso, é muito bem-vindo quando não substitui o acompanhamento médico”, conclui.

E você, usa algum aplicativo para ajudar a cuidar da sua saúde?

Valentina Leite
Ciência Hoje On-line