Tumblr do ICH: números para festejar

Em novembro de 2011, o Tumblr do Instituto Ciência Hoje (ICH) publicava o seu primeiro texto. Não sabe o que é Tumblr? Escrevemos sobre a plataforma aqui. Em síntese: o Tumblr permite publicar fotos, textos, citações, links, vídeos e áudio. Parece um blogue, mas é mais condizente com as possibilidades tecnológicas e com a estética de agora.

O pulo do gato do Tumblr, segundo seus próprios criadores, é a possibilidade de ‘reblogar’ os posts mais interessantes – algo similar ao ‘retuíte’ do Twitter ou o ‘compartilhar’ do Facebook.

O Tumblr, no entanto, tem mais ambições: quer ser uma plataforma de curadoria – vivenciar o discurso da web 2.0 em sua plenitude. Seus defensores dizem que, por lá, é mais cômodo publicar conteúdo e escolher aquilo que você quer destacar. Em outras palavras: seria mais fácil incorporar o papel de curador.

O Tumblr quer ser uma plataforma de curadoria – vivenciar o discurso da web 2.0 em sua plenitude

Pois bem. Quase um ano após seu nascimento, o Tumblr do ICH chega ao post de número 100. Hoje, conta com quase 20 mil seguidores. “São números muito expressivos, ainda mais no nicho da ciência”, garante à CH On-line a gerente de internacionalização do Tumblr no Brasil, Gina Gotthilf.

Já desconfiávamos do sucesso do nosso Tumblr, mas não tínhamos como ter certeza de que a marca dos 20 mil seguidores e das centenas de ‘reblogagens’ era de fato significativa. Explica-se: o Tumblr não permite que saibamos quantos seguidores possuem outras páginas, impossibilitando comparações dessa ordem.

Mas por que, afinal, a plataforma funciona desse modo? O Tumblr, diz Gotthilf, não tem intenção de gerar níveis de competição comuns a outras redes sociais – a típica disputa de quem tem mais seguidor. Não divulgar esse número seria uma forma de desencorajar o cabo de guerra. 

Antes do Tumblr, filosofia e neurociência

Gotthilf estudou filosofia e neurociência nos Estados Unidos. Ficou por lá sete anos. Está no Tumblr desde março de 2012. Na sua ‘gestão’, conquistou números importantes. O Tumblr pulou de 6,2 milhões de visitas únicas mensais para 8,6 milhões no Brasil. Esses dados fazem do país o segundo maior público do Tumblr – perde apenas para os Estados Unidos, que conta com 45 milhões de visitas por mês. 

Gina Gotthilf
Aos 26 anos, Gina Gotthilf é a gerente de internacionalização do Tumblr no Brasil: uma plataforma que, segundo ela, é muito mais do que um simples blogue. (foto: divulgação)

Outra iniciativa importante liderada por Gotthilf: a criação de um blogue da equipe do Tumblr, formada por prestadores de serviço brasileiros espalhados pelo mundo. O objetivo é destacar o que há de mais interessante na comunidade do Tumblr no Brasil, além de traduzir os posts mais visitados de outros países.

Em conversa na capital paulista, num café onde costuma trabalhar – o Tumblr não parece ter planos de formalizar um escritório agora no Brasil –, a representante dessa rede social falou à CH On-line sobre vários assuntos: a diferença do uso do Tumblr no Brasil e no exterior, as ferramentas disponíveis na plataforma, a opção por não privilegiar as caixas de comentários…

Confira, a seguir, alguns trechos da conversa, que também serão publicados no Tumblr do ICH como post de número 100 – uma homenagem aos nossos quase 20 mil seguidores.

Quando você foi anunciada como gerente de internacionalização do Tumblr no Brasil, disse que o usuário nacional não entendia a ferramenta como uma rede social. Não a usava em sua plenitude. Esse modo de utilizar o Tumblr apenas como blogue mudou desde então?
Eu acho que o comportamento tem mudado. Tem sido mais usado o dashboard [a página de usuário do Tumblr, que permite, entre outras ações, ler e reblogar os posts favoritos]. É claro que o Tumblr é ainda muitas vezes visto, sobretudo aqui, como blogue, e não como plataforma social.

Mudar isso é uma de suas metas?
Não, não tenho a pretensão de mudar o hábito dos brasileiros. Acho importante educar, mostrar que o Tumblr é diferente das outras plataformas. Mas cada um deve usá-lo como quiser. Minha intenção é falar que o Tumblr pode ser muito mais que um blogue, que é possível ‘reblogar’, indicar posts favoritos, dialogar com uma comunidade…    

O Tumblr no Brasil tem essa queda pelo humor. É assim em todo o mundo?
Nos Estados Unidos há também muitos Tumblrs de humor. Mas o tipo de humor brasileiro é muito peculiar, é até difícil explicar para os meus chefes no exterior do que se trata [risos].

Você ficou sete anos fora do Brasil. Como encontrou o país na volta?
Foi uma readaptação interessante. Desde que fui embora, o Brasil mudou muito. E mudou também na área de tecnologia e mídias digitais. Tem muita coisa boa acontecendo. Achei muito estimulante. É até difícil conseguir acompanhar tudo.

Você não parece ter exatamente o perfil de uma pessoa que trabalha com tecnologia. Diria que caiu nesse mundo por acaso?
Não sei exatamente se foi acaso. O que, afinal, é acaso? Fui me envolvendo, as coisas foram acontecendo. Tive a curiosidade de conhecer a pessoa que cuidava do Tumblr da Newsweek, o Mark Coatney. Procurei o Mark porque queria entender melhor o trabalho dele. Na época, trabalhava numa agência de mídias digitais. O Mark acabou virando diretor de mídia do Tumblr depois.

É bem comum ouvirmos pessoas dizerem que amam o Tumblr por ser uma comunidade muito positiva, em que não há desavenças

E como o contato com ele trouxe você até aqui?
Eu já tinha decidido fazer uma viagem pelo mundo. Ia embora dos Estados Unidos. Resolvi conversar com algumas pessoas antes, conhecê-las pessoalmente. Encontrei o Mark e ele me disse que o Tumblr estava pensando em vir para o Brasil, disse que o crescimento aqui estava enorme. Realmente, houve problemas até com os servidores nos Estados Unidos em função dos números de acesso no Brasil. Ele queria conhecer pessoas no Brasil: blogueiros, institutos culturais, a cena artística… Acabei ajudando com isso, apresentei pessoas e instituições. Estavam procurando uma pessoa para representá-los aqui também. Não era o meu plano, o meu plano era fazer a minha viagem pelo mundo! Já havia comprado as passagens. No fim, eles insistiram para que eu ficasse. Percebi que seria muita burrice não aproveitar a oportunidade. Acabei assinando o contrato um dia antes de embarcar.

O Tumblr dá a possibilidade de o usuário instalar uma ferramenta de comentário, mas essa ferramenta não é uma funcionalidade inicialmente incorporada ao site. Parece proposital, como se o Tumblr não quisesse que os usuários se comunicassem por meio de comentário…
Sim, de fato existe essa diretriz. Queremos dificultar os comentários negativos, como acontece com blogues mais convencionais. Se você quer comentar, em geral, é obrigado a reblogar e publicar um comentário sobre o post. E mais: é obrigado a colocar aquilo no seu próprio Tumblr. Acho isso muito positivo. Muita gente – inclusive empresas – não tem blogue por receio dos comentários negativos. É bem comum ouvirmos pessoas dizerem que amam o Tumblr por ser uma comunidade muito positiva, em que não há desavenças.

O Tumblr é diferente das outras redes sociais?
Sim, é um outro tipo de plataforma. Assim como o Twitter é diferente do Facebook. Cada uma dessas redes sociais tem sua natureza. O Facebook, por exemplo, é a rede para você se conectar com as pessoas que já conheceu na vida real. Ver suas fotos, ler o que falam. Eventualmente, bisbilhotar mesmo [risos]. No Tumblr, é diferente. Você não precisa seguir todas as pessoas que conhece. Aliás, você não segue pessoas, segue conteúdo. No Facebook, muitas vezes você lê coisas que não interessam. No Tumblr, não.

No Tumblr, você não precisa seguir todas as pessoas que conhece. Aliás, você não segue pessoas, segue conteúdo. No Facebook, muitas vezes você lê coisas que não interessam. No Tumblr, não


É o que David Karp, criador do Tumblr, chama de “curadoria”, certo?
Todos seriam, além de produtores, curadores de informação. Escolheriam o que reblogar e ao que dar destaque.

Isso. E não é à toa que o primeiro público que se interessou pelo Tumblr foi o ligado às artes. Além da possibilidade de curadoria, no Tumblr se escolhe, com rapidez, a cara da sua página. No Facebook e no Twitter, você não reforça tanto a sua identidade.

Mas isso é possível em outros serviços de blogue…
Não sou desenvolvedora, mas tenho a impressão de que o Tumblr é mais fácil de mexer. É mais fácil, com menos conhecimento, montar uma página interessante.

O Twitter também não privilegia o conteúdo?
Sim, é verdade. Mas o Twitter acaba preso ao texto. Você precisa clicar no link para seguir em frente. O Tumblr dá grande destaque para cada conteúdo postado. No dashboard, o conteúdo aparece enorme, ganha muito destaque. Além disso, o Tumblr não é sobre quantas pessoas te seguem, como ocorre um pouco com o Twitter. Propositalmente, inclusive, não divulgamos os números de seguidores das pessoas. No Tumblr, os usuários tendem a seguir um número menor de pessoas, é possível acompanhar o fluxo de conteúdo.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line