Uma idéia na cabeça e uma webcam na mão

Os novos recursos da internet têm aumentado o leque de ferramentas à disposição de quem trabalha com o ensino e a divulgação de ciência. Um grande número de vídeos que ilustram, explicam e demonstram fenômenos científicos variados pode ser visto em páginas como o YouTube. O interessante é que, com a possibilidade de os próprios usuários publicarem conteúdo nesses fóruns, é cada vez maior o material produzido e divulgado por alunos e professores.

Um dos vídeos produzidos pelo professor de física David Colarusso disponíveis em sua página pessoal. O clipe ensina como fabricar um motor elétrico simples e explica seu funcionamento. Clique para assistir.

Uma pequena amostra desse material pôde ser vista em um concurso recém-realizado pelo norte-americano David Colarusso, atualmente professor convidado da Broughton High School, em Edimburgo (Escócia). Ele é um entusiasta do uso do vídeo para o ensino, mas não da forma convencional: há alguns anos ele estimula seus alunos a produzirem seus próprios filmes, alguns dos quais estão à disposição em sua página pessoal .

“Tradicionalmente costuma-se dizer que o uso de vídeo aumenta o interesse dos estudantes e permite mostrar coisas que você não poderia reproduzir facilmente em sala”, conta ele. “Mas colocar os estudantes para produzir seus próprios vídeos é uma ferramenta ainda mais poderosa, porque eles têm que dominar totalmente o conhecimento sobre um tópico para aplicá-lo no filme.”

Para estimular mais alunos e professores a produzirem vídeos sobre ciência, Colarusso organizou o prêmio Phylm – um trocadilho em inglês com as palavras ‘física’ e ‘filme’. O professor ofereceu um cheque de 100 dólares e montou um júri de seis professores, cientistas e profissionais de TV para escolher o mais criativo vídeo sobre física inscrito no concurso.

Efeito de Leidenfrost

No vídeo vencedor do prêmio Phylm, o norte-americano Jamie Nichols apresenta uma impressionante aplicação do efeito de Leidenfrost. Clique para assistir.

O resultado foi anunciado na semana passada: o vencedor foi um filme que oferece uma impressionante demonstração do efeito de Leidenfrost. Esse fenômeno físico ocorre quando um líquido, em contato com uma superfície muito mais quente do que seu ponto de ebulição, produz uma camada de vapor que impede que ele se evapore rapidamente. No clipe vencedor, um homem molha seu braço na água e, protegido pelo efeito de Leidenfrost, quebra uma placa de madeira em chamas com um golpe de caratê, sem sofrer queimaduras.

O autor e protagonista do filme vencedor, o norte-americano Jamie Nichols, se define como um entusiasta da ciência. Formado em ciência da computação, ele trabalha em uma empresa da área no estado de Ohio (Estados Unidos) e mantém uma página – Slightly-mad science ( ‘Ciência ligeiramente maluca’) – na qual publica vídeos com experimentos mirabolantes como o que lhe valeu o prêmio Phylm. “Trabalho com conceitos científicos relativamente simples e acessíveis e apresento-os de forma divertida, dramática e às vezes um pouco perigosa, mas sem me machucar!”, conta ele.

O filme de Nichols concorreu com outros vídeos interessantes, muitos dos quais explicam a física por trás de filmes de Hollywood. Um deles recorre às leis da física para mostrar que a cena final do filme + Velozes + Furiosos , na qual um automóvel salta de uma rampa para perseguir um iate em fuga, é implausível. Um outro vídeo recorre a conceitos do magnetismo para explicar por que o vilão Magneto jamais poderia fazer levitar a ponte Golden Gate, em São Francisco (Estados Unidos), como faz no filme X-Men 3 .

Ciência no YouTube
O aumento dos vídeos sobre ciência na internet é conseqüência direta do sucesso de fóruns de compartilhamento de clipes, como o YouTube , criado em 2005. Embora nenhuma das 12 categorias em que seus vídeos são classificados esteja ligada à ciência, é fácil encontrar em uma busca por termos-chave uma grande variedade de vídeos sobre o tema. Do depoimento de cientistas famosos, como Albert Einstein ou Richard Dawkins, a episódios marcantes da exploração espacial, como a chegada do homem à Lua, é possível montar uma fragmentária história da ciência recente com as peças desse quebra-cabeça. A notícia ruim é que a maior parte dos vídeos, assim como os concorrentes do prêmio Phylm, é em inglês.

Balanço satisfatório
A participação no prêmio foi modesta: apenas 13 vídeos foram inscritos nesta primeira edição. Mas o evento teve boa repercussão na internet: o anúncio do concurso foi visto mais de 3 mil vezes no YouTube, e um dos concorrentes – o vídeo que explica a ruptura da barreira do som por um avião –, mais de 70 mil vezes.

David Colarusso está satisfeito com o resultado. “Embora não tenha havido muitos inscritos, os que responderam produziram um material excelente”, avalia. “Eu esperava que estudantes mandassem vídeos e isso aconteceu em pelo menos dois casos. O prêmio estimulou pessoas e instituições a fazerem vídeos sobre ciência, e só isso já fez valer o investimento de 100 dólares.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
12/06/2007