Unidos diagnosticaremos

Imagine diagnosticar doenças graves sem precisar de diploma de medicina nem deixar o conforto da sua casa. E ainda por cima se divertindo.  A ousada proposta é do engenheiro Ayogan Ozacan, da Universidade da Califórnia. Ele criou um jogo de plataforma on-line para identificar células infectadas com o parasita da malária e acredita que é possível transformar o brinquedo em ferramenta séria de diagnóstico. 

No jogo, é apresentada ao usuário uma coleção de imagens de glóbulos vermelhos nas quais ele deve identificar as células infectadas e as que estão livres do parasita da malária. O trabalho é o mesmo feito hoje por patologistas que diagnosticam a doença analisando amostras de sangue dos pacientes em microscópios. 

Por enquanto, o jogo está disponível na internet para qualquer um e serve apenas para recreação. Mas a ideia de Ozacan, cujo laboratório foca estratégias de telemedicina, é apresentar amostras de pacientes reais para milhares de jogadores que juntos chegariam  a um diagnóstico preciso. 

Um teste já foi feito com 30 jogadores leigos e publicado na revista científica PLoS One. A performance dos jogadores não foi das melhores. Eles conseguiram uma acurácia de apenas 1,25% da apresentada normalmente por profissionais treinados. 

“Se você combinar cuidadosamente as decisões de pessoas, até mesmo de não especialistas, os resultados se tornam mais precisos”

Mas Ozacan acredita que com uma grande rede de jogadores conectados, o programa seria capaz de rodar equações matemáticas com os resultados dos usuários e, em pouco tempo, chegar a diagnósticos tão precisos quanto aos de um profissional. A experiência é possível porque o diagnóstico da doença é baseado em um sistema ‘binário’ (ou uma célula está ou não está infectada). 

“Se você combinar cuidadosamente as decisões de pessoas, até mesmo de não especialistas, os resultados se tornam mais precisos”, diz. “Essa competitividade age a nosso favor. Usando as estatísticas de todos os jogadores conseguimos chegar a uma decisão final mais correta.”

Superpatologista virtual

É claro que a ambição de Ozacan está longe da realidade, por motivos práticos e éticos. Um plano mais pé no chão, no entanto, é considerado pelo pesquisador. Ele propõe criar uma rede de jogadores especialistas para agilizar e melhorar o diagnóstico da malária em locais carentes de profissionais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença mata três milhões de pessoas por ano, principalmente em países em desenvolvimento.

A lógica por trás da estratégia é curiosa: somando-se profissionais medianos seria possível criar um profissional virtual excelente. 

“Seria possível enviar imagens de microscopia para 5 ou 10 profissionais de diferentes partes do mundo que dariam seus veredictos sobre as amostras”, explica. “Levando em conta o histórico anterior de sucesso ou a falha de cada profissional-jogador, poderíamos combinar suas decisões para chegar a uma decisão final melhor do que a do melhor do grupo. Assim, mesmo com profissionais pouco treinados, conseguiríamos criar um ‘superpatologista’.”

Score
Ao final de cada jogada, o programa avisa o seu desempenho. Aqui, o resultado da repórter. (imagem: reprodução)

O jogo desenvolvido pela equipe do pesquisador já foi jogado por mais de dez mil internautas de 70 países, inclusive do Brasil. Os resultados obtidos por cada usuário estão sendo computados e combinados para saber qual o número ótimo de pessoas para que o diagnóstico se torne mais preciso. Por isso, Ozacan pede a sua ajuda.

“Já mostramos que a precisão dos diagnósticos aumenta com a quantidade de jogadores”, diz. “Agora, precisamos de vocês para transformar essa experiência em uma plataforma de crowd-sourcing realmente massiva e chegar ao mesmo nível de precisão de um profissional médico.”

Eu já me arrisquei e confesso que o joguinho é viciante. 

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line