Água em Marte: ainda um mistério

Novas informações sobre o planeta vermelho movimentam mais uma vez a comunidade científica. A análise de imagens inéditas e de alta definição de Marte, obtidas por uma missão da Nasa (a Agência Espacial Norte-americana) chamada Órbita de Reconhecimento de Marte (MRO, na sigla em inglês), permitiu a identificação detalhada dos materiais presentes em sua superfície. O trabalho, descrito em uma série de quatro artigos publicados na revista Science desta semana, sugere que a descoberta de água líquida naquele planeta pode ser mais difícil do que se espera, embora essa possibilidade não esteja totalmente excluída.

Os vales existentes em Marte podem indicar a ocorrência de fluxo de água. (Imagem: Science )

A atmosfera de Marte é caracterizada pela baixa pressão atmosférica e pela baixa temperatura (abaixo de -50 ºC). Por isso, a água existente está no estado sólido ou gasoso. Encontrar água líquida seria um passo essencial para investigar o desenvolvimento de vida no planeta.

Uma equipe liderada pelo pesquisador Alfred S. McEwen, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, analisou a atividade geológica de Marte em busca de evidências da existência de água líquida. Por meio das imagens de alta definição da MRO, foi possível identificar com detalhes materiais presentes na superfície marciana, como poeira, areia, pedras, gelo, além de dados topográficos.

A análise desses componentes geológicos permitiu a investigação da existência de antigos oceanos, que poderiam ser responsáveis pela presença de água líquida na superfície do planeta. Apesar de a existência de mares ou de água nos vales não ter sido confirmada, foram encontradas evidências de modificação fluvial em vales de média latitude e em crateras. Esses vales atraem a atenção dos cientistas, porque podem indicar a possibilidade de a água líquida alcançar a superfície.

Segundo os pesquisadores, as imagens capturadas pela MRO fornecem pistas de quando e onde a água modificou a superfície de Marte. “Essas observações informam modelos para processos geológicos e climáticos antigos e presentes e podem ser o foco de uma exploração futura dessas locações com grande promessa de descoberta de evidência de vida”, dizem os autores no artigo.

Um outro grupo de cientistas investigou o Vale do Athabasca, um sistema de canais de escoamento que estão inteiramente cobertos por uma fina camada de lava solidificada. Suspeita-se que, no passado, esses canais possam ter sido definidos por catastróficas enchentes. As análises das imagens da MRO indicam que os processos vulcânicos podem ter agido sobre esse canal fluvial, o que explicaria o fato de não ter sido encontrada água na região.

Camada de gelo no pólo sul de Marte. O cálculo de sua densidade mostra que o gelo é formado por água limpa. (Imagem: Nasa/ Mola Science Team )

Grandes depósitos de gelo
Os depósitos de sedimentos localizados no pólo sul de Marte foram estudados por uma equipe coordenada pela pesquisadora Maria T. Zuber, do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, nos Estados Unidos. A superfície dessa área é coberta por gelo. “Esses depósitos representam a maior reserva de água conhecida em Marte atualmente e a maior do Sistema Solar depois da Terra”, dizem os autores no artigo. Os pesquisadores usaram os dados da topografia da região e valor do campo gravitacional de Marte obtido pela MRO para calcular a densidade dessas camadas de gelo. Segundo eles, os depósitos têm densidade de aproximadamente 1220 Kg por metro cúbico, medida que indica que são provavelmente compostos por gelo oriundo de água limpa.

O pólo norte de Marte também foi foco de uma pesquisa. Através da análise dos depósitos de gelo existentes na sua superfície foi possível elaborar modelos de variações de clima em Marte. Segundo os pesquisadores, todas essas camadas cobertas por gelo podem esconder outras camadas com materiais geológicos antigos, que são de extrema importância para o estudo da superfície de Marte e podem ajudar na busca por água líquida. Apesar do avanço das pesquisas e da obtenção de dados mais detalhados, ainda é muito cedo para dizer definitivamente se há ou não água líquida no planeta vermelho.

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
20/09/2007