Aranha das antigas

Apesar de seus 53 milhões de anos, o macho de uma espécie de aranha até então desconhecida, batizada de Cenotextricella simoni, teve seus órgãos vitais internos estudados em detalhe por pesquisadores da Bélgica e do Reino Unido. Com o uso de tomografia computadorizada de alta resolução, o grupo obteve informações minuciosas sobre a morfologia do animal preservado em âmbar, o que permitiu sua comparação com espécies atuais de aranha.

Encontrado na região de Paris, na França, o fóssil, de aproximadamente um milímetro de comprimento, é o mais antigo registro da família Micropholcommatidae e antecipa seu surgimento na Terra em cerca de 47 milhões de anos.

Macho de Cenotextricella simoni visto sob diversos ângulos a partir de tomografia computadorizada de alta resolução (imagem: Zootaxa).

A análise da morfologia interna da aranha foi feita com uma técnica revolucionária, desenvolvida inicialmente para o diagnóstico de doenças e chamada de VHR-CT (sigla em inglês para tomografia computadorizada de raios-x de altíssima resolução).

“A VHR-CT proporciona a observação de detalhes morfológicos de animais pequenos, incluindo morfologia interna, e gera reconstruções tridimensionais que podem ser divididas e vistas de múltiplos ângulos (o que permite a ‘dissecação’ digital da espécie preservada em âmbar)”, afirmam os autores em artigo publicado em outubro periódico Zootaxa.

No artigo, o grupo liderado por David Penney, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, descreve os machos da espécie  C. simoni (fósseis de fêmeas não foram encontrados). Os autores apontam as estruturas que distinguem essa aranha de outras com características semelhantes, inclusive algumas que ocorrem atualmente na Austrália e Nova Zelândia.

Segundo os cientistas, a aplicação de tecnologias como a VHR-CT a estudos paleontológicos ajuda a combater algumas críticas à falta de qualidade dos fósseis para o estudo da história evolutiva das espécies. “Mesmo o estudo de minúsculos fósseis [como é o caso de C. simoni] pode fornecer um grau de detalhe morfológico que não deve ser ignorado”, destacam.

Mas os pesquisadores advertem que a VHR-CT não foi capaz de detectar, por exemplo, o pêlo das patas das aranhas, o que poderia ser feito claramente com luz microscópica. E concluem: “As técnicas tradicionais não devem ser abandonadas.”

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
27/11/2007