Sementes usadas para a confecção de artefatos artesanais no Acre.
Sementes de açaí, tucumã e jarina são algumas das matérias primas utilizadas por artesãos brasileiros na confecção de bolsas, pulseiras e outros adereços. Nos últimos anos, esses artistas populares se organizaram em cooperativas para investir no mercado externo. Hoje, colares feitos na Amazônia são vendidos em galerias de arte de Nova York por até 300 dólares. Porém, por serem constituídas de um material biodegradável, essas peças possuem baixíssima durabilidade, além de serem alvo da biopirataria. Com o objetivo de coibir essa prática e tornar esses artefatos mais resistentes, a engenheira agrônoma Denise Vilela de Rezende, da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu um método pioneiro de proteção das peças a partir de óleos naturais.
A técnica consiste na utilização de uma combinação de até seis óleos que banham as sementes ou outras matérias primas, como fibras de sisal e buriti. Cada peça é banhada durante dois ou três dias com uma concentração específica de óleos – que não podem ser revelados, já que o processo de patente do método ainda não foi concluído. Ao final do processo, as peças ganham uma camada protetora que aumenta a durabilidade de determinados materiais de três meses para até três anos.
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Por serem naturais, os óleos não provocam alergias nos usuários dos artefatos, ao contrário de produtos químicos utilizados por alguns artesãos. “Usa-se gasolina, óleo diesel e até cupinicida sem o menor controle. Certos produtos podem até causar câncer”, afirma Vilela, que estuda a técnica há três anos.
Biopirataria
Nessas sementes são encontrados insetos e outros microrganismos, como fungos e bactérias, que destroem a peça e a transformam em pó. “Os óleos agem nos ovos e nas larvas deixadas pelos insetos, impedindo a proliferação desses”, explica Vilela. “Dessa forma, a técnica impede a invasão acidental de espécies brasileiras em ambientes exóticos, o que pode causar um desequilíbrio no ecossistema local.” Além disso, são feitos furos nos poros germinativos das sementes para impedir que algum cientista estrangeiro compre o artesanato para, em laboratório, cultivar a planta e obter substâncias químicas com intuito de produzir fármacos e cosméticos.
Para dificultar ainda mais a pirataria, os óleos também camuflam os compostos das matérias primas, o que impede a analise laboratorial dos subprodutos das sementes. Outra técnica, já utilizada por alguns artesãos e que está em processo de expansão, é o cozimento prévio das sementes. Esse método provoca uma quebra na seqüência do DNA, o que dificulta o sequenciamento genético.
Colares produzidos por artesãos de Salvador.
Trabalho de campo
Vilela foi contratada pelo Sebrae e atualmente viaja para várias localidades do país para divulgar sua técnica. No Acre, onde, segundo a agrônoma, o método está mais difundido, existem quatro grupos trabalhando com os óleos. Para auxiliar os artesãos locais, uma cartilha com as técnicas para o tratamento das peças foi produzida e é distribuída pelo Sebrae.
O próximo destino da agrônoma é Porto Seguro, onde Vilela vai dar aulas a índios Pataxó. De acordo com Robson Antônio Araújo, do Sebrae/BA, os colares produzidos nas aldeias da região sofrem com fungos e mofo. “Ainda não se sabe se a umidade da região é a responsável por esses problemas”, diz. “O fato é que já tentamos algumas técnicas, inclusive a fervura das peças, mas não obtivemos sucesso.”
Para Araújo, a baixa durabilidade das peças produzidas pelos índios de Porto Seguro foi a responsável pelo fracasso na tentativa de exportar os produtos. “Conseguimos uma vez vender para Portugal e Espanha, mas estes não responderam. É possível que os colares tenham estragado por lá”. Ele diz que, por enquanto, o alvo é o mercado interno.
Júlio Molica
Ciência Hoje On-line
18/11/05