Beleza diminui sensação de dor

 

Gênios da arte e protagonistas do Renascimento italiano, Leonardo da Vinci (1452-1519) e Sandro Botticelli (1445-1510) estariam surpresos ao saber que suas famosas obras foram usadas em prol da ciência. Quadros desses e de outros artistas foram usados em um estudo italiano que mostrou que a contemplação de obras de arte consideradas belas é capaz de diminuir a sensação subjetiva de dor.

Os pesquisadores já sabiam que a percepção da dor é modulada por vários fatores sensoriais, afetivos e emocionais. Mas esta é a primeira vez que se verifica uma relação entre a apreciação estética e a forma como a dor é sentida. O estudo mostrou que, apesar de subjetivas, as percepções de beleza e feiúra influenciam inclusive algumas funções cerebrais.

A pesquisa foi feita por Michele Sardaro, Paolo Livrea e Marina de Tommaso, do Departamento de Ciências Psiquiátricas e Neurológicas da Universidade de Bari, e publicada na revista Consciousness and Cognition. Para investigar se haveria alguma relação entre a percepção de dor e a apreciação estética de obras de arte, eles pediram a 12 voluntários sem nenhuma experiência artística que avaliassem 300 quadros escolhidos em sites de história da arte. Os participantes tiveram então que classificá-los como “feios”, “neutros” ou “bonitos”.

Essa avaliação serviu de base para a seleção, para cada voluntário, de 20 telas entre as mais bem cotadas em cada uma das três categorias. Enquanto contemplavam esses quadros, eles foram submetidos à aplicação na mão esquerda de um pulso de laser similar ao usado em cirurgias estéticas, capaz de provocar um pequeno estímulo de dor. Durante o experimento, eles tiveram suas ondas cerebrais monitoradas por eletroencefalografia.

Os pesquisadores concluíram que a percepção da dor variava conforme a apreciação estética do quadro contemplado durante a aplicação do estímulo. “Houve uma redução significativa da avaliação da dor quando os participantes estavam contemplando belos quadros em comparação com a visão de imagens neutras e feias”, afirmam os autores no artigo. Além disso, a análise das ondas cerebrais dos voluntários revelou que a contemplação de quadros classificados como mais bonitos diminuiu a amplitude as ondas cerebrais P2.

Os pesquisadores esperam que o estudo contribua para a compreensão de como as experiências sensoriais, afetivas e emocionais influenciam a percepção da dor. E os resultados podem também ajudar a melhorar o ambiente de centros de saúde. Segundo os autores, a relação entre beleza e dor deve ser levada em consideração em hospitais e clínicas que tratam pacientes com dores crônicas.

Juliana Marques
Ciência Hoje On-line
22/10/2008