Bússola: um mistério que ajudou a desvendar mistérios

Considerada por alguns como a invenção tecnológica mais importante depois da roda, a bússola — que chegou na Europa no século 13 — revolucionou o comércio no Mediterrâneo e deu início à Era das Grandes Navegações. É irônico, portanto, que um instrumento que ajudou a desvendar mistérios esteja ele mesmo envolto em muitos. Até hoje, por exemplo, não há provas de que o suposto inventor da bússola, o italiano Flavio Gioia, tenha existido realmente.

Explorar a série de enigmas que compõem essa história foi a intenção de Amir D. Aczel, professor de matemática do Bentley College, em Massachusetts (EUA), na obra Bússola – a invenção que mudou o mundo . Aczel cresceu em um navio e já navegava por estreitos do Mediterrâneo muito antes de saber dirigir um carro. Foi nessa época que percebeu como a navegação era uma atividade difícil, para a qual a bússola era de grande importância. Em sua obra, além de tentar elucidar os mistérios associados a esse instrumento, ele procura fazer um apanhado histórico dos temas relacionados à orientação marítima, que reforça assim o impacto causado pela bússola.

Os primeiros capítulos descrevem os meios usados para se navegar antes da bússola ser inventada, como a sondagem de profundidade e a observação astronômica. A história dos pontos cardeais e da rosa-dos-ventos — invenções complementares ao uso desse instrumento — também são abordadas, assim como as primeiras referências européias ao uso de agulhas magnéticas para orientação.

Os capítulos centrais do livro tratam das origens da bússola, desde de sua aparição inicial em forma rudimentar na China do século 1, onde era usada para a prática mística do feng shui , passando pela Idade Média, até o seu aperfeiçoamento para navegação, ocorrido no século 13 e creditado à cidade italiana de Amalfi, então uma potência marítima. É de lá o suposto criador do instrumento, Flavio Gioia. Segundo o autor, estudos sugerem que esse homem nunca existiu: ele teria sido ‘criado’ por uma vírgula ausente de um texto, erro que mudou o sentido de uma frase e foi propagado por outros escritores ao longo dos tempos.

Aczel conclui o livro com uma análise da revolução náutica causada pela bússola, que permitiu a realização de feitos como a descoberta da rota marítima para as Índias e a circunavegação do globo. Graças a esse instrumento, os navegadores puderam mapear os oceanos, estabelecer rotas marítimas usadas até hoje e conectar as economias do mundo umas às outras.

De leitura fácil e linguagem acessível, Bússola – a invenção que mudou o mundo é um livro interessante. Não só por ampliar o nosso conhecimento sobre um instrumento de extrema importância histórica — que consideramos mundano hoje em dia –, mas também por mostrar que, às vezes, uma nova descoberta tem que esperar anos ou até séculos para ser aproveitada.

 

Bússola – a invenção que mudou o mundo
Amir D. Aczel (trad.: Maria Luiza X. de A. Borges)
Rio de Janeiro, 2002, Jorge Zahar Editor
136 páginas

Fred Furtado
Ciência Hoje On-line
14/01/03