Carta de Celisa Beranger

Na qualidade de ex-presidente do Sindicato dos Astrólogos do Estado do Rio de Janeiro (Sinarj) e astróloga atuante, solicito o direito de corrigir as afirmações incorretas contidas no artigo “Astronomia versus astrologia” – de Carlos Alexandre Wuensche – publicado no exemplar de fevereiro desta excelente revista.

1- Desde o século 2 d.C. (aquele em que viveu Ptolomeu, e não 2 a.C. como colocou o Sr. Carlos) a astrologia praticada no Ocidente, designada como tropical, deixou de utilizar as constelações. A astrologia tropical considera os pontos dos equinócios e solstícios como parâmetro para a localização do Sol, Lua e planetas no zodíaco. Deste modo, não importa a constelação na qual o Sol se encontra e nem o número de constelações que ele atravessa em seu trajeto na eclíptica.

No século 5 a.C, a divisão do caminho aparente do Sol em doze segmentos iguais de 30° deu origem aos signos e embora estes tenham adotado os nomes das constelações que na ocasião estavam próximas aos doze segmentos, jamais eles coincidiram com as constelações cujos tamanhos variados foram alterados através do tempo. Também é preciso ressaltar que o tempo não muda a referência utilizada pela astrologia tropical porque os equinócios e solstícios não mudam. Aliás, para que isto fosse respeitado o calendário foi corrigido no século 16.

2- O signo ‘solar’ não é a principal referência da astrologia. Os horóscopos apresentados em jornais e revistas são uma simplificação, inserida pelos ingleses a partir de 1935, que popularizou a astrologia, mas contribui para uma visão errada com relação à amplitude de seu saber. Os atuais horóscopos utilizam indevidamente a palavra de origem grega (que significa a marca da hora) utilizada desde o século 2 a.C para designar o ponto do ascendente (calculado em função da hora precisa do nascimento e, portanto, personalizado).

É importante ressaltar que cada pessoa possui uma carta, calculada em função dos dados precisos do nascimento: data, hora e local. Esta carta pessoal contém o Sol e a Lua e os demais planetas localizados nos doze signos e nas doze casas que resultam da relação do zodíaco com o horizonte e com o meridiano do local do nascimento.

3- O artigo não citou a grande estatística do francês Michel Gauquelin, que comprova a correspondência entre as posições dos astros no nascimento e os traços da personalidade. Aliás, embora com um número bem menor, uma pesquisa feita dentro da Universidade de Brasília, em 2005, também comprovou esta correspondência. Em 2006, após 30 anos de pesquisa, o filósofo americano Richard Tarnas publicou sua comprovação da correlação entre o movimento dos planetas e as experiências humanas (objeto do estudo da astrologia), tanto em termos individuais quanto coletivos (Cosmos and Psyche).

4- Com relação aos novos objetos a serem incluídos nas cartas natais e nas previsões, a cada descoberta são efetuadas pesquisas para definição que duram muitos anos de estudo e, só após a comprovação, eles são inseridos. Assim ocorreu com Urano, Netuno e Plutão e atualmente já existem pesquisas para definição de Éris. Quanto ao pulsar da nebulosa do Caranguejo ou de Andrômeda, eles não são utilizados porque não possuem ciclos que possam ser definidos em termos humanos. Contudo, a astrologia utiliza diversas estrelas e na verdade sua consideração é anterior àquela dos planetas, pois os primeiros presságios astrológicos foram em função de suas ascensões.

5- Os astrólogos não pretendem que a astrologia seja considerada como ciência, pelo menos não no sentido moderno do termo, e também não estão preocupados com a aceitação por parte do meio científico, porém não podem admitir que pessoas que desconhecem o saber astrológico, cientistas ou não, designem a astrologia como adivinhação, crença ou pseudociência e divulguem informações erradas a respeito do seu saber. Sob nosso enfoque, homens de ciência não deveriam falar do que só conhecem superficialmente, especialmente astrônomos, que deveriam seguir o exemplo de seus antecessores mais famosos que estudaram e até praticaram a astrologia.

Atenciosamente,

Celisa Beranger

* Releia o artigo “Astronomia versus astrologia”, publicado na CH 256, e a réplica do autor às críticas.