Carvão vegetal ecologicamente correto


O novo processo de produção de carvão vegetal elimina o uso dos tradicionais fornos de carvoaria, que emitem fumaça maléfica ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores. (Fotos: Bricarbrás).

O Brasil é o maior produtor de carvão vegetal do mundo. Infelizmente, no país, essa atividade tem como principais características o uso de trabalho escravo e a poluição do ar gerada pela fumaça dos fornos usados para fabricar o produto. Uma empresa paranaense, no entanto, trouxe para o setor uma nova tecnologia que pode mudar esse panorama. Há um ano sua fábrica usa um sistema limpo e mais eficiente para a geração de carvão vegetal no estado. A expansão dos negócios para duas novas fábricas em Minas Gerais já está planejada, o que confirma o sucesso do empreendimento.

O processo criado pela empresa Bricarbrás Briquetagem e Carbonização do Brasil Ltda. elimina o uso dos tradicionais fornos de carvoaria, fontes de emissão de fumaça maléfica ao meio ambiente. Além do dano causado às áreas próximas aos fornos, o método convencional exige grande esforço físico dos carvoeiros em circunstâncias de trabalho prejudiciais à saúde. No lugar desses fornos de barro e tijolos, o novo método usa cilindros metálicos para a carbonização da madeira. A fumaça resultante é queimada e transformada em gás limpo. A supervisão da carbonização é computadorizada, o que permite ao operador saber o exato momento em que o carvão está pronto.

“A fumaça que sai dos fornos de carvão tradicionais contamina toda a vizinhança”, diz o engenheiro florestal Alexandre Pimenta, gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa. Ele explica que, quando a lenha contida no forno alcança 450 o C, temperatura em que o carvão vegetal está pronto, de 65 a 75% de seu peso já deixaram o forno em forma de fumaça rica em compostos químicos voláteis, alguns deles cancerígenos. Entre os poluentes, pode-se destacar o alcatrão, a acetona e o metano – um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. “A pessoa que trabalha com isso sai do expediente defumada. A fumaça liberada pelos fornos contém inclusive fluoreno, um dos agentes cancerígenos encontrados, por exemplo, na fumaça dos cigarros”, complementa.

Os cilindros metálicos usados no lugar dos fornos não eliminam gases na atmosfera. Durante a carbonização, os compostos voláteis tóxicos são conduzidos através de um tubo e passam por um processo de queima. “A uma temperatura de 1000 o C, esses poluentes são transformados em gás carbônico (CO 2 ) limpo e água”, explica Pimenta. “Parte do CO 2 é liberada para o ar e outra é usada, em forma de gás quente, para a secagem da própria lenha”, conta. Graças à possibilidade de secar a lenha de modo mais eficaz antes de queimá-la, a produção de carvão por meio do novo método é 50% maior do que pelo tradicional.

O método criado pela Bricarbrás usa cilindros metálicos para a carbonização da madeira. A fumaça resultante é conduzida através de um tubo para ser queimada e transformada em gás limpo.

Outra vantagem do processo criado pela Bricarbrás refere-se às condições de trabalho dos empregados. A constante vigilância dos fornos para a medição do tempo correto de queima, feita normalmente pelos carvoeiros nos fornos convencionais, os expõe ao calor e à fumaça diariamente, além de obrigá-los a permanecer no posto por horas a fio, inclusive durante a noite. Para evitar esse transtorno, o novo processo conta com termopares (espécie de termômetro) implantados dentro dos cilindros, que transmitem para um computador a temperatura exata dentro dos fornos. “Além disso, implementamos um sistema mecanizado de descarga do carvão, para que não seja necessário que o operador entre nos fornos para retirar o material.”

Pimenta destaca ainda que, na fábrica, localizada no Paraná, somente lenha de reflorestamento é carbonizada, o que reforça o caráter ecológico do processo. A exemplo da matriz, duas novas unidades estão sendo implantadas em Minas Gerais com o mesmo conceito de produção limpa de carvão vegetal.

Pelo fato de promover a queima integral do metano emitido pelos fornos, a empresa planeja ingressar também no mercado de troca de créditos de carbono. “O metano causa 21 vezes mais efeito estufa e aquecimento global do que o gás carbônico, o que o torna um dos alvos no atual esforço de redução das emissões de gases do efeito estufa”, explica Pimenta. “Em nosso processo de queima dos gases poluentes, eliminamos de 50 a 60 toneladas de metano por mês, que irão gerar créditos passíveis de comercialização”, complementa.

Juliana Tinoco
Especial para Ciência Hoje On-line
31/01/2007