Cicatrização mais eficaz

Uma membrana feita de silicone com papaína, enzima extraída do látex do mamão, promete ser uma opção mais eficiente para o tratamento de feridas. Estudos in vitro indicam que essa membrana seria capaz de prolongar a liberação da enzima no local da lesão e teria um prazo de validade maior do que o dos métodos convencionais que usam essa substância.

Testes realizados in vitro indicam que a membrana feita de silicone com papaína (foto) deve proporcionar uma absorção mais prolongada pela pele dessa enzima extraída do látex do mamão (foto: Gislaine Zulli).

Conhecida por suas propriedades cicatrizantes, a papaína já é usada em forma de gel em alguns hospitais, mas seu prazo de validade é de apenas 60 dias e sua ação na pele tem duração bastante limitada. “Testes realizados in vitro com um aparelho capaz de simular a liberação da papaína na pele ao longo do tempo demonstraram que a membrana de silicone garante a absorção controlada da enzima por até 12 horas, período superior ao do gel”, afirma a farmacêutica Gislaine Zulli, autora do trabalho.

“Assim, há uma redução do número de aplicações diárias do produto devido à liberação prolongada, o que facilitaria significativamente o processo de cicatrização e aumentaria a aceitação do paciente ao tratamento”, explica. Estima-se também que o prazo de validade das membranas será maior que o do gel, pois elas não possuem água.

A pesquisa é fruto da dissertação de mestrado de Zulli no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, vinculado à Universidade de São Paulo (Ipen/USP). A farmacêutica pretendia criar em seu trabalho um sistema de liberação controlada da papaína na pele ao longo de um determinado período. A idéia era desenvolver uma alternativa ao gel que fosse mais estável, pois a enzima começa a perder suas propriedades cicatrizantes após seis horas em contato com a água.

Zulli esclarece que a escolha do polímero de silicone para compor a membrana foi feita porque o material é bastante confiável e seguro e seu uso já está consolidado na área médica. Raramente há casos de reações alérgicas provocadas pelo silicone.

Outras formas de aplicação
Além do gel, a papaína também pode ser aplicada na forma de uma solução aquosa sobre a pele. No entanto, devido à instabilidade da enzima na água, esse uso exige o preparo da solução imediatamente antes da sua aplicação. Suas propriedades cicatrizantes também são aproveitadas no ambiente caseiro, como, por exemplo, pelas mães em fase de amamentação, que usam cascas de mamão para acelerar a cicatrização de feridas nos seios.

Zulli ressalta que, até o momento, não foram realizados testes em humanos para verificar a viabilidade do uso do produto e seus efeitos sobre o organismo. Mas os resultados dos ensaios in vitro e a ampla utilização da papaína até hoje indicam que os resultados dos testes in vivo em seres vivos seriam positivos. Por isso, ainda não há previsão de quando a membrana, que está sendo patenteada, poderá ser adotada pelos hospitais.

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
03/03/2008