Cientistas advertem: ver televisão é prejudicial à saúde

Crianças e adolescentes que assistem televisão por duas ou mais horas diárias têm maior tendência a ter problemas cardiovasculares, obesidade, tabagismo e colesterol alto na juventude. A conclusão, de pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, é alarmante para os pais brasileiros: segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, o público infanto-juvenil passa, em média, três horas e meia por dia diante da telinha.

 

A equipe de Robert Hancox acompanhou, do nascimento aos 26 anos de idade, a ‘rotina televisual’ de cerca de mil crianças nascidas entre abril de 1972 e março de 1973 na cidade neozelandesa de Dunedin. Inicialmente os dados eram fornecidos pelos pais das crianças; após completarem 13 anos, elas próprias eram entrevistadas.

Os dados foram colhidos primeiramente aos 5 anos de idade e, em seguida, em intervalos de dois anos até os 15. Houve outra coleta de informações aos 21 anos e uma última aos 26 anos, para se avaliar a fase adulta. Informações sobre peso, altura, condicionamento físico, taxa de colesterol e pressão sangüínea também foram verificadas em cada etapa.

Entre os participantes, 61% assistiam em média mais de duas horas de TV por dia entre os 5 e 15 anos de idade. Os resultados colhidos aos 26 anos indicaram que, nessa fração da população, era maior a prevalência de obesidade, tabagismo, aumento da taxa de colesterol e piora da capacidade cardiorrespiratória. Esses indicadores podem não provocar problemas de saúde aos 26 anos, mas são fatores de risco para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares no futuro.

A análise apontou uma correlação estatisticamente significativa entre esses parâmetros e o tempo de TV durante a infância e adolescência. “Mas não podemos provar essa associação causal, como em qualquer estudo observacional”, ressalta Hancox no artigo que relata os resultados do estudo, publicado em 17 de julho na revista The Lancet .

Segundo os pesquisadores, vários comportamentos infantis poderiam explicar a ligação entre TV e problemas de saúde. “Os mais óbvios são a atividade física e a dieta alimentar”, explica Hancox. O tempo passado diante da televisão poderia ser gasto na prática de exercícios, por exemplo. “Além disso, a publicidade na TV neozelandesa tende a promover uma dieta pouco saudável”, acrescenta o pesquisador.

Mas qual seria então o limite de tempo saudável para se entreter com a TV? “Comprovamos que crianças que assistiam uma hora ou menos de TV diariamente são mais saudáveis”, disse Hancox à CH On-line . Mas ele ressalta que não houve um número suficiente de participantes que não assistiam TV para estabelecer um tal limite.

Hancox e equipe recomendam que os adultos limitem seus filhos a assistir de uma a duas horas diárias de televisão. “Os pais devem desligar a TV e mostrar o exemplo para os menores”, diz. “Será muito mais difícil para as crianças modificarem esse tipo de estilo de vida quando estiverem na fase adulta.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
27/07/04