A descoberta de um gigante

Acaba de ser atendido um antigo anseio dos visitantes do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): o Brasil tem finalmente seu primeiro dinossauro de grande porte em exposição permanente, a exemplo do que ocorre em outros países onde a paleontologia tem recebido uma atenção especial pela sociedade.

O dinossauro em questão pertence a uma nova espécie – o Maxakalisaurus topai , apresentado à imprensa em uma entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira. O animal tinha aproximadamente 13 metros de comprimento e pesava cerca de 9 toneladas. Ele pertence ao grupo dos titanossauros, que engloba algumas das formas terrestres mais gigantescas que já viveram na face do nosso planeta.

A nova espécie foi identificada em fósseis encontrados na região da Serra da Boa Vista, no Triângulo Mineiro, em rochas pertencentes à Formação Adamantina (Grupo Bauru), com idade estimada em cerca de 80 milhões de anos. Naquela região, vestígios de dinossauros haviam sido encontrados há mais de dez anos em uma rodovia, a aproximadamente 45 km da cidade de Prata, no Triângulo Mineiro.

A descoberta foi feita quase por acaso pela geóloga Karen Goldberg. Ela estava realizando um trabalho de mapeamento na região quando deparou com alguns ossos. O material foi levado para o Museu Nacional e identificado como vestígios de dinossauros por Sergio Azevedo, atual diretor da instituição. A descoberta foi bastante interessante, pois são relativamente poucos os registros desses animais no Brasil.

Reconhecido o potencial daquela região, a equipe do Setor de Paleovertebrados do Museu Nacional realizou ali quatro escavações de grande porte, nos anos de 1998, 2000, 2001 e 2002. Ao longo desse período, foram coletadas mais de seis toneladas de blocos contendo restos de dinossauros. Todo o material é proveniente de uma área restrita com aproximadamente 40 m2.

Novo titanossauro
Após uma preparação de três anos, os pesquisadores concluíram que havia fósseis de pelo menos dois indivíduos no local, embora a maior parte do material represente um único exemplar, que pode ser classificado no grupo dos titanossauros. Esses animais tinham pescoço e cauda compridos, corpo volumoso e cabeça comparativamente pequena. Eram os principais dinossauros herbívoros do supercontinente Gondwana e seus representantes são oriundos principalmente da América do Sul, África e Índia.

O material estudado pertence a uma espécie nova, que foi batizada em homenagem à tribo indígena Maxakali, encontrada atualmente em Minas Gerais, e a Topa , uma divindade cultuada por esse povo. O Maxakalisaurus topai difere dos demais titanossauros por várias feições, incluindo uma configuração particular das vértebras caudais: elas tendem a ser mais achatadas e sacrais e possuem a parte ventral em forma de quilha.

Um dos pontos mais interessantes do estudo foi a reconstituição de alguns aspectos da vida desse dinossauro. O Maxakalisaurus topai não estava sozinho: junto com ele, foram descobertos dentes de crocodilomorfos e de dinossauros carnívoros. Alguns ossos da nova espécie possuem marcas de dentes, o que sugere que, após sua morte, ele foi alvo de animais carniceiros, possivelmente dinossauros terópodes. Outra hipótese, baseada no fato de que mais de um indivíduo está presente na assembléia fossilífera encontrada, sugere que o Maxakalisaurus topai poderia apresentar o hábito de viver em grupo.

Em outros depósitos da Formação Adamantina foram encontradas conchas de gastrópodes, o que indica que havia lagos controlados por rios na região, onde habitavam diversos peixes.

Apesar de alguns ossos não terem sido muito bem preservados, estando bastante fragmentados, quase todo o corpo do novo dinossauro encontra-se conservado. Entre as partes recuperadas, estão a maior porção do pescoço (vértebras cervicais), algumas vértebras dorsais, parte de duas vértebras sacrais e diversas vértebras caudais, um úmero (osso do braço), uma fíbula (osso da perna) e a placa esternal.

Também foi encontrado um pedaço da maxila contendo dentes – a primeira de um dinossauro herbívoro brasileiro – e um osteoderma, que é uma placa óssea que ficava embutida no couro do animal. Tal fato sugere que grande parte da região dorsal deveria estar recoberta por essas placas ósseas.

Reconstituição pioneira
Teve-se a idéia de fazer uma reconstituição do esqueleto deste animal, já que ele foi encontrado quase completo. Outros dinossauros já haviam sido reconstituídos no Brasil, como o Santanaraptor e o Staurikosaurus , mas eram bastante menores. O Maxakalisaurus topai é o primeiro dinossauro brasileiro de grande porte montado e ficará em exposição permanente para visitação no Museu Nacional da UFRJ.
Para comemorar este achado e sua montagem, está sendo organizado um concurso no qual crianças poderão escolher um nome popular para esta nova espécie (veja regulamento no Museu Nacional). Também foi preparada uma parte da exposição para deficientes visuais que poderão, por meio de um texto em Braille, se informar um pouco mais sobre esta nova espécie. De quebra, poderão manusear um crânio de Maxakalisaurus topai e tocar em um osso de dinossauro com 80 milhões de anos. Por fim, há ainda um filme com cerca de 10 minutos, apresentado pela atriz Cissa Guimarães, mostrando as diversas fases desse projeto.

Todo esse trabalho, que reuniu diversas fases como coleta, pesquisa e montagem, foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pela Jurassic Foundation, além de ter contado com o apoio da Dow Corning e do Polo Náutico da UFRJ.

Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
28/08/2006

Paleocurtas 

As últimas do mundo da paleontologia

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A pesquisadora Lillian Bergqvist, da UFRJ, acaba de apresentar ao público a reconstituição do Carodnia vieirai , que viveu há 60 milhões de anos. Trata-se do maior mamífero encontrado na Bacia São José de Itaboraí , no Rio de Janeiro.
Em maio de 2007 a cidade de Mendoza receberá o Terceiro Simpósio Argentino sobre o Jurássico. O evento promete ser um fórum de discussão sobre os fósseis e eventos geológicos ocorridos nesse período geológico. Para mais informações, escreva para [email protected] .
A prefeitura de Rio Branco e a Universidade Federal do Acre vão criar um Museu de Paleontologia na capital daquele estado. A região é extremamente rica em fósseis do Mioceno (cerca de 15 milhões de anos atrás) e um museu na região será extremamente importante para o desenvolvimento da paleontologia na região Norte do Brasil.
Pesquisadores norte-americanos fizeram uma análise detalhada do dano causado por insetos em quase 15 mil folhas de angiospermas de depósitos do Cretáceo Superior, Paleoceno e Eoceno. Em estudo publicado na Science , Peter Wilf e seus colegas chegaram à conclusão de que a cadeia alimentar relacionada a insetos ainda era bastante instável cerca de 1 a 2 milhões de anos após a extinção em massa ocorrida há 65 milhões de anos.
Um molar superior isolado encontrado em rochas do Cretáceo Inferior (112 milhões de anos) da Mongólia e atribuído à espécie Kielantherium gobiense apresenta uma pequena projeção na parte interna do dente chamada de protocone. Essa feição dentária, comum em mamíferos mais derivados, foi documentada pela primeira vez nessa espécie e mostra que ela já tinha a capacidade de amassar e moer a comida. A pesquisa, liderada por Alexey V. Lopatin, acaba se ser publicada na revista Science .
Pesquisadores argentinos e brasileiros descreveram uma nova espécie de peixe do grupo Cichlidae – um dos mais diversificados, com mais de 1300 espécies conhecidas, com registro fossilífero relativamente escasso. O Proterocara argentina , descrito por Maria Malabarba, da PUC do Rio Grande do Sul, e colaboradores no Journal of Vertebrate Paleontology , é o mais antigo membro desse grupo encontrado em rochas da Formação Lumbrera, com idade situada no Eoceno (54-34 milhões de anos atrás).