Da TV para a mesa

 

Mais da metade das propagandas de alimentos veiculadas na televisão faz referência a produtos ricos em açúcares e gordura. A constatação é da psicóloga Paula Carolina Nascimento, feita em sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, na Universidade de São Paulo. A pesquisa sugere a influência da propaganda nos hábitos alimentares de crianças, adolescentes e até adultos, que acabam se rendendo a alimentos pouco saudáveis na hora das compras. 

(Arte: Eduardo Dúzia)

As propagandas de alimentos representam cerca de um quarto de tudo o que é anunciado na televisão e freqüentemente evocam temas como a família e a praticidade para atrair o consumidor. Segundo Nascimento, que analisou 640 horas de anúncios, a ausência de alimentos saudáveis se deve ao interesse da indústria: “A indústria ainda não vê nos produtos naturais um potencial para a venda massiva.” Ela diz que existem alguns produtos naturais associados a personagens infantis, por exemplo, mas as iniciativas ainda são isoladas.

 

Durante o estudo, Nascimento também analisou os hábitos alimentares e o estado nutricional de 816 alunos da primeira à oitava série do Ensino Fundamental de 12 escolas públicas de Ribeirão Preto (São Paulo). O índice de obesidade e sobrepeso encontrado chegou a 24%. O dado se deve aos hábitos alimentares dessas crianças não só na escola, mas também em casa: “Os pais também são expostos ao apelo comercial de determinados produtos ricos em gorduras.”

 

Não dá para fugir

 

A pesquisadora ressalta que todos sofrem com a influência da televisão, já que, ao longo do dia, o número de propagandas só aumenta. À noite, quando a família senta em frente à TV, o bombardeio de informações chega ao auge. “Como o Brasil ainda não tem uma legislação que regulamente a veiculação de propagandas de alimentos, a recomendação é diminuir as horas de exposição à TV”, sugere a psicóloga. “Pesquisas comprovaram que a redução do tempo em frente à televisão está associada a uma diminuição quase imediata no peso das crianças”, completa.

 

Em um momento em que a obesidade é mais que uma ameaça, a psicóloga destaca a importância de iniciativas do governo para resolver o problema. Ela conta que, no Reino Unido, por exemplo, foi criado um ministério específico para tratar de questões relativas à obesidade, e, na França, toda publicidade e promoção de certos alimentos deve incluir mensagens contra maus hábitos alimentares e obesidade, uma estratégia parecida com a que adotamos contra o cigarro. “O Brasil deve seguir o exemplo dos Estados Unidos e de vários países da Europa, que anunciam medidas para incentivar a vida saudável”, defende.

 

 

Fernanda Alves

 

Ciência Hoje On-line

14/05/2007