Dança das cadeiras climática

 

Em 2100, o aquecimento global poderá resultar no aparecimento de climas que a humanidade nunca viu antes, bem como no desaparecimento de outras zonas climáticas. Essas mudanças levarão a extinções, a novas formas de associação entre espécies e a novos ambientes (biomas), o que vai complicar os esforços de conservação ambiental. As previsões foram feitas em um artigo publicado hoje na revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences .

Baseados em dois cenários – um mais pessimista (A2) e um mais otimista (B1) – sobre concentração de gás carbônico na atmosfera, publicados no relatório de 2001 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), os pesquisadores das universidades de Wisconsin e Wyoming, ambas nos Estados Unidos, criaram modelos para traduzir esses valores em alterações climáticas.

Mapas de mudança climática que mostram, nos cenários pessimista (A2) e otimista (B1), o surgimento de novos climas nas regiões tropicais e subtropicais e o desaparecimento de outros em montanhas tropicais e nas áreas próximas aos pólos. Quanto mais vermelho, mais intenso o efeito descrito.
(Crédito: Jack Williams/ Universidade de Wisconsin).

Segundo eles, de 12% a 39% (4% a 20% no cenário B1) da superfície terrestre do planeta, especialmente nos trópicos e nas regiões subtropicais, estarão sujeitos a novos climas no final do século. “Em geral, isso significa condições climáticas mais quentes em locais do mundo que já estão no limite de calor dos climas atuais”, explica o norte-americano Jack Williams, geólogo da Universidade de Wisconsin e principal autor do artigo. Como exemplo, ele prevê um aumento, na floresta amazônica, de 2 ºC a 3 ºC no verão e de 4 ºC a 5 ºC no inverno.

Os novos climas dos trópicos afetarão as condições climáticas de latitudes e altitudes mais altas, fazendo com que as existentes atualmente desapareçam por completo. De acordo com o trabalho, de 10% a 48% (4% a 20% no cenário B1) da área terrestre mundial, principalmente nas montanhas tropicais e nas regiões próximas aos pólos, passarão por essa mudança.

No estudo, Williams e seus colegas afirmam que as espécies tropicais serão as mais afetadas pelas mudanças, especialmente pelas extinções climáticas, já que elas não estão acostumadas a grandes variações de temperatura e sua área de abrangência pequena dificulta a adaptação a alterações ambientais. “As soluções de conservação usuais (corredores ecológicos, migração assistida etc.) podem não ser suficientes para salvar aqueles seres cujos hábitats e climas nativos desaparecerão por completo”, observa o geólogo.

Por outro lado, as novas zonas climáticas podem levar ao surgimento de biomas e associações de espécies até então inexistentes no planeta. Nesse caso, os esforços de conservação se complicam, pois não há como prever o resultado final das mudanças. “Essa dança das cadeiras corre o risco de criar surpresas ecológicas”, afirma Williams, que agora testa modelos que possam resolver esse problema. “Se eles forem capazes de acertar a distribuição de espécies e climas antigos, é provável que sejam confiáveis para predizer o futuro”, conclui.

Fred Furtado
Especial para Ciência Hoje On-line
26/03/2007