Desenvolvido primeiro robô brasileiro para combater incêndios

 

 

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O primeiro “robô-bombeiro” brasileiro funciona com até 4,2 mil litros d’água por minuto e lança água a até 60 metros.
 
Uma proposta desafiadora que gerou uma grande invenção feita com poucos recursos e muita criatividade. Assim se concebeu o primeiro “robô-bombeiro” do país, desenvolvido na Universidade de Fortaleza (Unifor). Batizado de Saci – sigla para Sistema de Apoio ao Combate de Incidentes –, o equipamento já é utilizado pelo Corpo de Bombeiros do Ceará. Capaz de lançar jatos de 4,2 mil litros de água por minuto a uma distância de até 180 metros do operador, o robô cumpre a sua missão: “salvaguardar a vida daqueles que nos salvam”, segundo seu criador, o engenheiro eletrônico Antônio Roberto Lins de Macedo.
 
A idéia surgiu depois que seu pai, Antônio Roberto Menescal – professor da Faculdade de Engenharia da Unifor – mostrou-lhe um vídeo sobre um robô japonês e desafiou-o desenvolver um modelo similar. “Aceitei a tarefa e fiz o Saci como meu trabalho de conclusão do curso de graduação”, diz Macedo. “Pensei em criar algo que pudesse diminuir o risco de bombeiros e profissionais da área petroquímica, além de otimizar custos para segurança do trabalho.”
 
O robô-canhão funciona com motor elétrico blindado, para evitar superaquecimento, e pode ser abastecido por até três mangueiras de 120 metros. Em comparação com outros modelos já criados no mundo – especificamente no Japão, Inglaterra e China –, o Saci é 21 vezes mais potente e ainda lança jatos d’água de dois tipos (veja na figura abaixo). Além disso, o equipamento funciona por controle remoto durante até três horas ininterruptas na capacidade máxima de carga.
 
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O saci pode lançar jatos d’água de dois tipos: lineares, dirigidos para um objetivo pontual (no alto), ou difusos, em forma de neblina, ideais para combater incêndios de combustíveis derivados de petróleo e também para a diluição de gases tóxicos

“Utilizamos uma arquitetura mais resistente a temperaturas altas, com baixo custo de fabricação e que não precisa de microcontrolador, ou seja, não processa dados enquanto trabalha”, explica o engenheiro. Segundo ele, o manuseio é simples e prático, como um controle remoto de brinquedo. Outra vantagem é a mobilidade do robô em ambientes pequenos, pois a esteira que permite a locomoção do aparelho facilita sua rotação e a superação de obstáculos no solo.

Concluída em 2004, a primeira versão do Saci ganhou os prêmios CNI 2005 (Confederação Nacional da Indústria), Petrobras de Tecnologia e Finep (Financiadora de Produtos e Projetos – etapa Nordeste), e foi até encomendada pelo Corpo de Bombeiros do Ceará, que vem usando o aparelho no controle de incêndios desde janeiro 2005.
Desde então, Macedo continua a aprimorar o robô. Desenvolvida na primeira empresa incubada da Unifor (Armtec), também liderada pelo engenheiro, a versão 2.0 do Saci é capaz de levantar e baixar o canhão d’água, girar 360 graus e lançar jatos de 7,2 mil litros por minuto, além de ter duas câmeras, uma que funciona no sentido do canhão e outra na frente do robô. Outra novidade é a tecnologia de tolerância a falhas, ou seja, mesmo que algo queime dentro dele, o equipamento continuará funcionando. “Esse novo modelo deverá estar disponível já no primeiro semestre de 2006”, diz Macedo.

 

Além do Corpo de Bombeiros, empresas como Petrobras e Ipiranga pretendem utilizar o equipamento para ações de combate a incêndio e segurança do trabalho. “A demanda só aumenta. Já temos encomendas para o Rio Grande do Sul, Minas Gerais e até Estados Unidos”, diz o engenheiro. No futuro, a equipe da Armtec pretende desenvolver uma versão doméstica ainda menor do Saci, própria para condomínios e prédios comerciais com preço mais acessível (entre 10 e 15 mil dólares).


Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
14/12/2005