Diferentes até dormindo

Homens sentem mais sonolência durante o dia, enquanto mulheres sofrem mais de insônia (fotos: Jean-Pierre Knapen (esq.) e Andrew Richards).

As diferenças de comportamento entre homens e mulheres não se manifestam apenas quando estão acordados. Um estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que cada sexo tem um padrão de sono distinto. A pesquisa mostrou que eles adormecem mais rapidamente que elas, mas seu sono é mais perturbado por roncos. O estresse diurno e os hormônios são possíveis causas para essas disparidades.

A pesquisa envolveu pesquisadores do Instituto do Sono e do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e foi realizada em 2006 com 1150 homens e 815 mulheres entre 18 e 80 anos.

“As constantes apneias fazem com que os homens fiquem mais tempo nas fases iniciais do sono, que não são tão reparadoras quanto as mais avançadas”, explica a fisioterapeuta Andressa da Silva, mestranda em psicobiologia e autora principal do estudo, publicado no Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Um maior índice de sonolência diurna também foi percebido entre eles, o que pode ser explicado pelo sono superficial e entremeado por apneias.

Os resultados mostram que os homens demoraram, em média, 20 minutos para dormir – cinco a mais do que as mulheres. Em compensação, os pesquisadores constataram que elas permanecem mais tempo nas fases mais profundas do sono, tendo um repouso mais reparador.

O grupo também concluiu que elas têm mais queixas de insônia que eles. As flutuações hormonais podem ser uma das causas, pois tornam as mulheres mais ansiosas. “Mas essa insônia também pode ser psicossocial, ou seja, causada pelo estresse cotidiano e pela dupla jornada de trabalho, por exemplo”, afirma Silva.

Queixas comprovadas
Os resultados foram obtidos por meio da análise de um questionário aplicado aos pacientes e de uma polissonografia — exame que registra, por meio de sensores aplicados no corpo, a atividade elétrica cerebral, a respiração, o movimento dos olhos, a atividade muscular, a oxigenação sanguínea e o batimento cardíaco, entre outros.

Segundo Silva, o estudo comprovou cientificamente as maiores queixas encontradas na análise do questionário distribuído, em que 13% das mulheres reclamavam de insônia, e 81% dos homens, de roncos exagerados. “Os resultados da pesquisa poderão dar mais parâmetros aos médicos no diagnóstico de seus pacientes com distúrbios de sono”, avalia.

O artigo que apresenta os resultados do estudo está disponível na internet. Além de Andressa da Silva, assinam o trabalho os psicobiólogos Monica Levy Andersen, Sergio Tufik, Lia Bittencourt e Marco Tulio de Mello, todos da Unifesp.

Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
10/03/2009