Em busca de oportunidade

 

Os jovens da região metropolitana do Rio de Janeiro estão passando mais tempo nos bancos escolares, mas muitos ainda se vêem obrigados a deixar de lado seus estudos para trabalhar. Os que conseguem conciliar trabalho e estudo são 21,5% na faixa etária de 15 a 17 anos e 14,3% na faixa dos 21 aos 24 anos. A constatação é de uma pesquisa realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi) com o objetivo de mostrar a atual situação do mercado de trabalho para jovens de cinco comunidades carentes de diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Vista aérea da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, uma das cinco comunidades de baixa renda estudadas. O estudo analisou as características peculiares de comunidades de diferentes pontos da cidade. (Foto: Paula le Dieu)..

Segundo os coordenadores da pesquisa, o psicólogo Alexandre Bárbara Soares e a socióloga Felicia Picanço, a maioria das políticas públicas procura conciliar a emprego e escola, o que pode não gerar o impacto desejado.

“Muitos desses jovens acabam abandonando o estudo em busca de empregos com melhores remunerações. Mas o emprego que é bom para ele agora pode não ser mais futuramente, quando ele constituir uma família, tiver filhos”, explica Soares à CH On-line. “Essa defasagem na escolaridade dificulta o acesso a melhores oportunidades.”

A pesquisa também constatou que, na região metropolitana do Rio, enquanto 47,3% dos jovens em famílias com renda acima de 5 salários mínimos estavam apenas estudando, entre os jovens em famílias com até meio salário, o percentual cai para 28,7%. Além disso, o desemprego atinge principalmente jovens da faixa mais baixa de renda familiar.

De acordo com critérios de sexo e cor, as mulheres negras estão mais concentradas em atividades que exigem um nível menor de escolaridade, como emprego doméstico. Embora as mulheres sejam, em geral, mais escolarizadas, os homens têm se beneficiado mais do processo de expansão do ensino. “O número de homens jovens na escola aumentou, ainda que isso não implique na reversão da desigualdade”, diz Soares.

Pesquisadores comunitários
O estudo analisou dados de estabelecimentos comerciais da Rocinha, Queimados, Alemão, Vila Aliança e Caju, que empregam jovens com idade entre 15 e 24 anos, tanto em empregos formais como informais. Os resultados finais serão divulgados em agosto. De acordo com Soares, o objetivo é analisar o mercado de trabalho para os jovens de comunidades carentes e as estratégias em andamento na cidade do Rio que possibilitam a entrada desses jovens em atividades de geração de renda.

Pesquisadores comunitários durante o trabalho de campo em no Morro Azul, em Queimados, Baixada Fluminense (foto: Alexandre B. Soares).

Os pesquisadores levantaram dados estatísticos da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicilio (Pnad) dos últimos 12 anos e treinaram jovens das comunidades de baixa renda para coletar informações nas áreas onde vivem. Esses pesquisadores comunitários foram fundamentais para garantir um acesso mais direto a essas comunidades.

“Muitas áreas que visitamos estão inseridas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e as pessoas temiam que essa coleta de dados estivesse relacionada à remoção de moradores”, conta Picanço. “A participação de jovens da própria comunidade reduzia essa tensão”.

Segundo a socióloga, a escolha das cinco comunidades buscou atender às peculiaridades de cada região. “Há diferenças entre as comunidades da Zona Oeste da cidade e as da Zona Sul, e isso pode influenciar estratégias específicas de programas sociais para cada uma dessas áreas”, afirma. “Na Rocinha, por exemplo, é comum que meninos trabalhem como catadores de bolinhas em campos de golfe nas áreas próximas”.

Obstáculos à inserção
Os pesquisadores também ouviram os jovens sobre o que facilita e dificulta na hora de procurar emprego. Alguns dos fatores que dificultam a inserção no mercado de trabalho são a escolaridade precária, o preconceito contra o local de moradia e o fato de ter filhos, no caso das mulheres.

Reunião de equipe de pesquisadores comunitários. Jovens moradores das comunidades estudadas receberam treinamento para coletar as informações do local onde vivem (foto: Alexandre B. Soares)..

Entre as facilidades, um dos fatores mais apontados foram as relações pessoais. “Apesar da importância das políticas públicas, a rede de relações pessoais ainda tem um peso muito grande no processo desses jovens de aquisição de um novo emprego”, explica Picanço.

 

Os dois pesquisadores trabalham há alguns anos com comunidades de baixa renda e perceberam que algumas iniciativas para essas áreas, como redes de defesa dos direitos da criança ou capacitação de jovens, muitas vezes chegavam a um impasse.

 

“Percebemos que trabalhos com crianças e adolescentes não atendiam a uma demanda dos jovens por ter uma fonte de renda”, conta Soares. “Além disso, procuramos repensar as políticas de geração de renda que não vêem a inserção desse jovem no mercado como um direito dele, e sim, como uma forma de evitar que ele entre na marginalidade. Essa pesquisa busca lançar as bases de uma agenda de prioridades de ação para essas comunidades.”

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
22/04/2008