Em órbita o segundo satélite sino-brasileiro

Um acordo de cooperação tecnológica entre China e Brasil lançou ao espaço seu segundo satélite de monitoramento da superfície terrestre — o CBERS-2 (sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres). O lançamento aconteceu na madrugada de 21 de outubro, no Centro de Satélites de Taiyuan, a 750 km de Pequim, e teve como veículo lançador o foguete Longa Marcha 4B, que já havia sido usado com sucesso no lançamento do CBERS-1, em 1999.

Concepção artística do CBERS-2 em órbita (imagens: Inpe)

Em órbita a 778 km de altitude, o satélite realiza cerca de 14 revoluções por dia (com cem minutos cada) e tem vida útil de dois anos. É equipado com câmeras de diferentes resoluções e um sistema de coleta de dados ambientais para analisar os ecossistemas brasileiros. A órbita do CBERS-2 permite obter imagens de todo o planeta: transmissores a bordo enviam às estações receptoras e centros de processamento no Brasil e na China os dados captados, que são então repassados às agências usuárias dos dados.

As imagens do CBERS-2 serão usadas na observação de fenômenos úteis para agricultura e o estudo do meio ambiente, florestas, recursos hidrológicos, geologia etc. No Brasil, elas poderão ser usadas, por exemplo, no controle do desmatamento e queimadas na Amazônia, além de colaborar com projetos estratégicos, como o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam).

Segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o CBERS-2 pode representar uma alternativa para a crise no mercado mundial de sensoriamento remoto: as imagens do satélite francês Spot — um dos principais usados com esse fim — são muito caras, e o satélite pioneiro norte-americano Landsat-7 encerrou recentemente suas operações.

 

Etapas do lançamento do CBERS-2, realizado na madrugada de 21/10

O Programa Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres foi firmado em julho de 1988 e envolve o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (Cast) e outras agências. A parceria entre os dois países permitiu a entrada do Brasil no seleto grupo dos detentores da tecnologia de sensoriamento remoto.

 

Inicialmente, o programa estipulava que a montagem, integração e os testes dos satélites seriam realizados na China, o que chegou acontecer com o CBERS-1. Novos acordos permitiram que as etapas de integração e testes do CBERS-2 fossem realizadas no Inpe, em São José dos Campos (SP).

“O CBERS-2 será uma ferramenta imprescindível para realizar tarefas essenciais ao desenvolvimento do Brasil, país com dimensões continentais, grandes áreas pouco desenvolvidas e de difícil acesso” afirma Jânio Kono, coordenador do Programa Sino-Brasileiro em artigo no site do Inpe. “Conhecer, acompanhar mudanças e cuidar do extenso território, e utilizar de forma eficiente e sustentada os recursos naturais do país são tarefas grandemente facilitadas pelo CBERS.”

O sucesso da parceria fez com que o programa, inicialmente elaborado para a realização de apenas dois satélites, ampliasse seus objetivos e firmasse acordo para a construção do CBERS-3 e 4. O Brasil, anteriormente responsável por 30% dos investimentos, passará nessa etapa a contribuir com 50% e dividirá com a China o ônus do projeto.

Fábia Andérez
Ciência Hoje On-line
21/10/03