Gelatina e própolis. A partir desses dois velhos conhecidos, a engenheira de alimentos Renata Barbosa Bodini, da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu um material para a fabricação de embalagens bioativas – aquelas que evitam a proliferação de microrganismos nos produtos que armazenam.
A escolha se justifica. A própolis, usada amplamente na medicina popular, tem propriedades cicatrizantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas confirmadas por estudos científicos. Segundo a pesquisadora, essa resina produzida por abelhas possui ainda um aspecto antitumoral, em função de sua composição química.
Já a gelatina é um biopolímero, isto é, uma estrutura molecular produzida por seres vivos, que se destaca por ser uma alternativa aos polímeros sintéticos, como o plástico, e pela capacidade natural de formar filmes – folhas finas como as usadas para recobrir alimentos.
“Além disso, o baixo custo e a produção em larga escala favoreceram a escolha da gelatina suína para o fim da nossa pesquisa”, completa Bodini.
Selecionados os ingredientes, Bodini partiu para a execução do projeto. Primeiramente, a pesquisadora preparou o extrato etanólico de própolis (EEP) a partir da resina sólida. “A cera foi triturada e a ela foi adicionada uma solução com álcool etílico a 80%”, explica.
Na etapa seguinte, a formulação composta por gelatina, água, materiais plastificantes – sorbitol ou citrato de acetil tributila – e o extrato etanólico de própolis originou os filmes biodegradáveis com os quais Bodini desejava trabalhar.
Vantagens e desafios
Para saber se o filme manteria as propriedades antimicrobianas da própolis, a pesquisadora realizou testes com a bactéria Staphylococcus aureus. “Essa bactéria apresenta resistência a antibióticos e pode estar presente em alimentos manipulados, ocasionando problemas gastrointestinais nos consumidores”, justifica a engenheira.
As bactérias foram colocadas em contato com os filmes biodegradáveis de própolis apresentando três concentrações diferentes de EEP em relação à gelatina – 5%, 40% e 200% – e a sua atividade antimicrobiana foi analisada durante 177 dias.
O filme com concentração de 5% do extrato não impediu a multiplicação da bactéria. Já aqueles com 40% e 200% obtiveram sucesso na inibição microbiana.
Apesar dos bons resultados, Bodini aponta desafios na produção do material bioativo. Um deles é o seu método de fabricação, chamado casting, pelo qual os filmes secam em placas dentro de estufas. “É um procedimento demorado”, explica a engenheira.
O forte aroma da própolis é outro aspecto. “Não conseguimos amenizá-lo totalmente”, afirma a pesquisadora.
Além da aplicação em embalagens bioativas, Bodini acredita que, no futuro, os filmes biodegradáveis possam servir como suporte para a própolis em alimentos. Em outras palavras, um ingrediente a mais nas receitas para impedir a multiplicação de microrganismos na comida.
Saulo Pereira Guimarães
Ciência Hoje On-line