Encontrada bactéria em condições similares às de Marte

Uma nova espécie de bactéria descoberta em condições similares às de Marte pode ajudar a entender como seria a vida microbiana que pode ter existido no planeta vermelho. O novo microrganismo foi identificado por pesquisadores da agência espacial norte-americana (Nasa) no lago Mono, na Califórnia (EUA), que é altamente salgado e alcalino.

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Bactérias Spirochaeta americana mortas (formas helicoidais vermelhas)  e vivas (verdes) Foto: Hoover/Pikuta/Bej, Nasa, University of Alabama

A nova bactéria foi batizada de Spirochaeta americana pelos seus descobridores, os microbiologistas Richard Hoover e Elena Pikuta. Por ser capaz de sobreviver em meios hostis, ela é classificada como um organismo extremófilo. Já são conhecidas outras 13 espécies do mesmo gênero, mas a S. americana é a única capaz de sobreviver em ambientes com pH próximo de 10 e taxa de salinidade da água de 12% (no mar, esses valores são de 8 e 3,5% em média).

Amostras de água e lama do lago Mono recolhidas em setembro de 2000 por Hoover revelaram a existência do microrganismo, que foi posteriormente cultivado em laboratório por Elena. Ambos publicaram a descrição da nova espécie em um artigo na edição de maio do International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology.

Lama quente e salgada é o ambiente ideal para a novo microrganismo, que não sobrevive na presença de oxigênio, tóxico para a espécie. ” A S. americana é uma bactéria anaeróbia obtém energia a partir da fermentação de açúcares”, disse Elena à CH On-Line . Os pesquisadores acreditam que a espécie pode ser um remanescente das primeiras formas microbianas de vida que surgiram na Terra.

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Como o lago Mono não é cortado por nenhum rio, a concentração de sais e minerais em suas águas aumenta gradativamente (foto: Nasa/JSC)

O único processo de saída da água no lago Mono é a evaporação. Isso aumenta gradualmente sua concentração de sais e minerais, o que explica sua alta salinidade e alcalinidade (por isso, ele é considerado um lago terminal). Esse ambiente se assemelha à cratera Gusev, em Marte, que poderia ter sido um lago terminal no passado segundo cientistas da Nasa.

No lago Mono, fósseis de bactérias como a S. americana são abundantes nas tufas, estruturas formadas pela solidificação de gotas de água ricas em cálcio e bicarbonato. O cálcio presente no lago combina-se com o bicarbonato proveniente de fontes alcalinas de água e forma pedras calcárias. Nesse processo, microrganismos são enterrados e, com o tempo, transformam-se em fósseis. “Utilizamos o lago Mono como um ecossistema modelo, que poderia ter se formado nas mesmas condições em Marte”, disse Elena. “Mas isso são apenas conclusões lógicas, que não foram baseadas em amostras do solo marciano.”

Para comprovar tais suposições, a Nasa lançou em junho a sonda Spirit para explorar a cratera Gusev em busca de evidências como tufas. É improvável que micróbios vivos sejam encontrados na cratera, onde a sonda pousará em janeiro de 2004, mas seus fósseis poderão estar bem conservados. “Atividade biológica [em Marte] já foi registrada por meio de análises isotópicas”, disse Elena. “Talvez essa expedição descubra os agentes responsáveis por esse processo.”

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
12/08/03