Encruzilhada amazônica


Em 2050, 40% da floresta amazônica terão sido destruídos pela expansão da pecuária e do cultivo de soja, incluindo dois terços de cobertura florestal de seis importantes rios e de 12 ecorregiões; essa devastação lançará na atmosfera um volume equivalente a quatros anos de emissões de carbono em todo o mundo. Ou não. Tudo vai depender da estratégia de conservação adotada nos próximos anos. É o que mostra uma série de simulações computacionais realizadas por instituições nacionais e estrangeiras e coordenadas pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Primeira parte de um projeto chamado ‘Cenários para a Amazônia’, o trabalho levou em conta as taxas históricas de desmatamento, cruzadas com dados sobre o asfaltamento de novas rodovias, a expansão das áreas de proteção ambiental (APA) e o cumprimento do Código Florestal, que obriga os proprietários rurais a conservar 80% da vegetação original dos seus terrenos.

Níveis de desmatamento da Amazônia em 2050 apontados por simulações computacionais que levam em conta o cenário mais pessimista (amarelo) e o mais otimista (laranja). Clique no mapa para ampliar (imagem: UFMG).

“Variando a importância desses fatores em modelos matemáticos, chegamos a oito cenários possíveis”, explica o cartógrafo Britaldo Silveira Soares-Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR/UFMG), e um dos autores do artigo a ser publicado nesta quinta-feira na revista inglesa Nature . Apesar da gama de possibilidades, os pesquisadores concentraram as descrições em dois cenários: o mais pessimista e o mais otimista.

O primeiro, chamado de business as usual (BAU, também chamado de ‘mesmo de sempre’), assume que as taxas de desmatamento continuarão, novas rodovias serão construídas, o Código Florestal não será respeitado e novas APAs não serão criadas. No segundo cenário, chamado governância , essas expectativas se invertem. Neste caso, a devastação da Amazônia em 2050 ficaria ‘restrita’ a 25% da área total de florestas – em oposição aos 40% apontados para o cenário pessimista

“O estudo mostra que as APAs não são suficientes como estratégia de conservação. É preciso se concentrar nas propriedades particulares, onde se localiza metade do desmatamento que pode ser evitado”, alerta Soares-Filho. Para ele, também é necessário valorizar a floresta em pé, com a criação de certificações de bom manejo, a serem exigidas de agricultores e pecuaristas que quisessem vender seus produtos no exterior.

Créditos de carbono seriam outra maneira de impedir o desmatamento. No cenário otimista, a liberação de carb ono gerada pela devastação equivaleria a ‘apenas’ a um ano e meio das emissões mundiais. A diferença em relação ao cenário pessimista poderia ser atribuída aos proprietários. “Hoje em dia, o proprietário ganha mais se desmatar e reflorestar com eucalipto”, revela o cartógrafo. 

Fred Furtado
Ciência Hoje On-line
22/03/2006