Enfim a matéria escura?

O anel visível na foto acima mostra como a atração gravitacional exercida pela matéria escura afeta a luz das galáxias do aglomerado ZwCl0024+1652. Trata-se de um dos mais fortes indícios já identificados da existência da matéria escura (foto: Nasa, ESA, M.J. Jee e H. Ford).

Cientistas afirmam ter identificado um dos mais convincentes indícios da existência da misteriosa matéria escura, que seria responsável pela maior parte da massa do universo. A comprovação é uma estrutura gigantesca em forma de anel, situada em um aglomerado de galáxias a 5 bilhões de anos-luz da Terra.

O anel de matéria escura foi identificado em imagens feitas pelo telescópio espacial Hubble, operado pelas agências espaciais norte-americana (Nasa) e européia (ESA). A estrutura teria sido formada a partir da colisão de dois aglomerados de galáxias, ocorrida entre um e dois bilhões de anos atrás.

A análise das imagens, feita pela equipe do astrônomo Myungkook James Jee, da Universidade Johns Hopkins (EUA), será publicada em 1º de junho na revista Astrophysical Journal . “Esta é a primeira vez que se detecta a matéria escura com uma estrutura única, diferente da do gás e das galáxias nos aglomerados”, afirma Jee.

A existência da matéria escura foi postulada para explicar a atração gravitacional que mantém unidos os aglomerados de galáxias. Acredita-se que ela represente cerca de 80% da massa total do universo. No entanto, ela não pode ser diretamente observada, pois não emite ou reflete luz. Sua existência só pode ser inferida a partir da forma como a atração gravitacional exercida por ela afeta a luz de galáxias distantes.

Pedra no fundo do lago
E foi justamente analisando como a matéria escura afeta o aglomerado de galáxias ZwCl0024+1652 que a equipe de Jee identificou o anel registrado nas imagens do Hubble. Com um diâmetro de 2,6 milhões de anos-luz, o anel parecia afetar a luz das galáxias do aglomerado, da mesma forma como a ondulação da água perturba a visão de uma pedra no fundo de um lago.

“Fiquei incomodado quando notei o anel, porque ele poderia significar uma falha na redução dos nossos dados”, conta Jee. “Quanto mais tentávamos remover o anel, mais ele se destacava. Levei mais de um ano até me convencer de que ele era real.” A equipe recorreu a simulações de computador para investigar como a colisão de dois aglomerados de galáxias afetaria a distribuição da matéria escura, e os resultados foram compatíveis com o anel observado nas imagens do Hubble.

Segundo Jee, a descoberta do anel deve ajudar a entender como a matéria escura se comporta diferentemente da matéria visível. No entanto, a câmera do Hubble que fotografou a estrutura entrou em pane em janeiro e não deve ser reparada até o ano que vem. Observações mais detalhadas que podem trazer novidades sobre a matéria escura talvez tenham que esperar o lançamento do telescópio espacial James Webb, previsto para 2013.

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
16/05/2007