Estudo relaciona tabagismo com personalidade de universitários

Traços da personalidade podem criar predisposição ao tabagismo, aponta a tese de doutorado da psicóloga Regina de Cássia Rondina, apresentada em junho à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. A pesquisa comparou os perfis de universitários fumantes, não fumantes e ex-fumantes em função de características como estabilidade emocional e extroversão, entre outras.

Mais de mil estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foram selecionados aleatoriamente para responder a um questionário, cujos resultados foram apurados sob a forma de escores numéricos brutos. Em seguida, foram calculadas as médias dos escores de universitários fumantes, ex-fumantes e não-fumantes em oito características de personalidade. Em média, os fumantes tenderam a se descrever como desleixados, imprudentes, desorganizados e descuidados quanto à higiene e saúde.

A pesquisa indicou que, quanto maior o consumo diário de tabaco, maior a probabilidade de o universitário apresentar essas características. O resultado é similar ao de outros estudos realizados em diferentes contextos históricos, geográficos e sociais. “Uma de nossas hipóteses é que o consumo de tabaco seja um reflexo dessas características de personalidade”, explica Rondina, que realizou o estudo com Ricardo Gorayeb e Clóvis Botelho.

Embora assuma que não se pode generalizar os resultados obtidos para a população de fumantes como um todo, a psicóloga acredita que o estudo pode ajudar a aprimorar o atendimento aos fumantes. “Os profissionais que atuam em programas de tratamento devem levar em conta os aspectos psicológicos do paciente”, explica. “Além da costumeira abordagem no sentido de alertar para as doenças relacionadas ao fumo, o profissional poderia, por exemplo, trabalhar questões relacionadas à auto-estima e à importância do cuidado consigo mesmo.”

O estudo revelou ainda que os universitários que conseguiram abandonar o cigarro consideram que são mais perseverantes para atingir metas e têm mais vigor, energia e disposição para exercícios físicos, em comparação com os fumantes. Segundo a pesquisadora, há duas interpretações complementares para esse resultado. “É possível que o êxito no abandono do tabagismo seja um reflexo de características como energia, perseverança e esforço”, considera. “Por outro lado, é possível também que o maior vigor, energia e disposição para atividades físicas sejam conseqüência direta do abandono do tabagismo, que resulta em melhoria imediata das funções orgânico-fisiológicas do sujeito.”

Rondina acredita que esses resultados podem contribuir para aprimorar os programas de tratamento. “No momento em que aconselha o paciente, o profissional pode utilizar como estratégia informá-lo dos benefícios imediatos da cessação do tabagismo”, aponta. “Além disso, é importante alertar o paciente de que o abandono do tabagismo exige persistência. As recaídas não devem desestimular uma nova tentativa de parar de fumar.”

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
28/07/04