Exercícios para o cérebro

 

O processo de recuperação de pacientes que sofreram derrame cerebral é praticamente o mesmo há décadas. Porém, ele está sendo revolucionado graças a pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que têm trabalhado desde 1989 na criação robôs voltados para a reabilitação física desses pacientes. Em julho, foi anunciada em uma conferência em Chicago (EUA) a criação de um novo modelo, voltado para a recuperação do movimento dos tornozelos, que começará a ser testado em pacientes ainda este ano. O novo modelo foi batizado de Anklebot – um trocadilho com as palavras ‘tornozelo’ e ‘robô’, em inglês. A proposta do MIT é criar uma verdadeira academia de robôs, que modernize e facilite o processo de recuperação.
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Teste feito com o Anklebot , robô concebido para auxiliar pacientes que sofreram derrame a recuperar o movimento dos tornozelos
(foto: L. Barry Hetherington / MIT).

 

O primeiro robô criado pela equipe – o MIT Manus – começou a ser desenvolvido em 1989; hoje, há 35 unidades espalhadas pelo mundo. O dispositivo foi concebido para exercitar o ombro e o cotovelo e já foi testado em mais de 300 pacientes em recuperação. Os resultados mostraram uma melhora de 25% no controle dos movimentos específicos da articulação exercitada. Após criar variações do MIT Manus para a mão e para o pulso, o novo robô, que começa a ser testado agora com pacientes de derrame, é voltado para a recuperação do controle sobre os tornozelos, fundamental para a prevenção de quedas. “O tornozelo é fundamental para a marcha e para o equilíbrio”, afirma em entrevista à CH On-lineo engenheiro mecânicobrasileiro Hermano Igo Krebs, um dos coordenadores da pesquisa.

 
O Anklebot é basicamente composto por um sapato e um protetor de joelho conectados por dois braços mecânicos móveis, movidos por pequenos motores e conectados a um computador que analisa o movimento do paciente. Os braços ajudam o tornozelo a ir para baixo e para cima, ao movimentarem-se na mesma direção, ou a girar, ao movimentarem-se em direções diferentes. “O robô ajuda o paciente quando o pé não esta no chão e pode dar propulsão a caminhada”, afirma Krebs.
 
A idéia por trás dos robôs é utilizar toda a plasticidade cerebral. A perda dos movimentos de partes do corpo depois de um derrame ocorre devido à morte das áreas do cérebro responsáveis por eles. “Os robôs servem para estimular neurônios de outras áreas ou para criar novas sinapses que assumam as funções que antes cabiam às células que morreram”, explica Krebs.
 
Esse estímulo é um dos principais focos de atuação do novo tratamento. Os robôs interativos propõem diferentes jogos aos pacientes para desenvolver não só o movimento, mas sua vontade de se mover.  “Os robôs não movem a articulação continuamente, mas estimulam o paciente a fazer tudo que é capaz”, afirma Krebs. “Se os pacientes não movem o membro, movem muito devagar ou sem direção, os robôs ajudam a completar a tarefa”. Os jogos são continuamente modificados para fazer com que os pacientes se movimentem cada vez mais. Além disso, os robôs são ajustados de acordo com uma avaliação da capacidade do paciente, para que ele se mova mais rápido e com mais direção, além de permitir quase mil movimentos por hora de terapia – um número muito maior do que o obtido com a terapia tradicional, com a vantagem adicional de causar menos dor.
 
Os pesquisadores não sabem quando o Anklebot estará disponível no mercado. Hoje, apenas algumas instituições dispõem do MIT Manus – a um custo de 60.000 dólares por unidade –, mas os criadores apostam que ele vai ser mais acessível quando se popularizar. “Até o fim do ano vamos corrigir os possíveis problemas do protótipo para o tornozelo”, afirma Krebs. “A partir do início de 2006, distribuir o aparelho para outros centros de pesquisa.” O instituto planeja lançar ainda robôs voltados para outras articulações do corpo, além de estudos dessa tecnologia aplicada em pacientes com mal de Parkinson, esclerose múltipla e crianças com paralisia cerebral. “A terapia é uma ‘industria madura’, que necessita ser atualizada com tecnologia moderna”, avalia Krebs.
 

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
12/07/05