Exploradores dos mares

No final do século 18, o explorador Alessandro Malaspina dirigia a primeira expedição científica de circunavegação espanhola. Duzentos anos depois de sua morte, um projeto do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), órgão do governo da Espanha, lhe presta uma homenagem.

O Conselho organizou a Malaspina 2010, uma expedição oceanográfica que reúne 400 cientistas de 19 instituições de diferentes nacionalidades, inclusive do Brasil, com o objetivo de estudar o impacto das alterações climáticas mundiais sobre a biodiversidade dos oceanos.

O navio do projeto, o Hespérides, partiu da cidade espanhola de Cádiz em dezembro do ano passado com destino ao Rio de Janeiro, onde deve ancorar no dia 13 deste mês. Depois da parada no Brasil, a embracação cruzará o oceano Atlântico até a Cidade do Cabo, na África do Sul.

De lá, viajará para Perth e Sidney, na Austrália, e Auckland, na Nova Zelândia. Seguirá para o Pacífico, até ao Havaí, cruzará o canal do Panamá para fazer uma escala em Cartagena, na Colômbia, e, por fim, retornar à Espanha, em julho de 2011. A viagem deve durar nove meses e percorrer 42 mil milhas náuticas.

Trajeto
A rota do navio inclui cidades como Rio de Janeiro, Cidade do Cabo e Sidney. (foto: divulgação)

Durante a expedição, os pesquisadores a bordo irão coletar ar, água e plâncton em 350 pontos do trajeto. As amostras serão usadas em um estudo multidisciplinar sobre a diversidade marinha e os fluxos de gases entre oceano e atmosfera. Também serão lançadas ao mar, a cada dez dias, boias de medição de temperatura e salinidade da água com o intuito de obter mais informações sobre algumas regiões oceânicas pouco conhecidas.

“Os oceanos desempenham um papel central na regulação do clima do planeta, mas pouco se sabe sobre como eles vêm sendo afetados pela ação do homem”, afirma o biólogo Alex Enrich Prast, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem dois alunos embarcados no navio. “Esse projeto ambicioso certamente contribuirá para a nossa compreensão do assunto”, completa.

“Os oceanos têm papel central na regulação do clima do planeta, mas pouco se sabe sobre como eles são afetados pela ação do homem”

Coleta nas profundezas

Metade da superfície terrestre é coberta por oceanos com mais de três mil metros de profundidade. No entanto, devido às limitações das tecnologias disponíveis até o momento, essas regiões, chamadas de zonas escuras, têm sido pouco exploradas.

A expedição Malaspina 2010 promete mudar essa situação com o uso de uma nova garrafa oceanográfica – criada e patenteada pelo projeto –, que permite coletar amostras de plâncton a quatro mil metros de profundidade. A nova garrafa é presa ao CTD, um tradicional equipamento de prospecção marítima.

Todas as amostras farão parte de um banco de dados na Universidade de Cádiz. A ideia é que o material reunido fique à disposição da comunidade científica para consulta. “Com essa expedição, vamos dar a volta ao mundo, mas também daremos início a uma nova cultura de cooperação e união de forças”, destaca o oceanógrafo português Carlos Duarte, coordenador da Malaspina 2010 e membro do CSIC.

Equipamento CTD
Uma garrafa oceanográfica criada pela equipe do projeto e presa ao CTD, tradicional equipamento de prospecção marítima, permite coletar plâncton a quatro mil metros de profundidade. (foto: divulgação)

Visita ao navio

O Hespérides ficará aberto à visitação em cada parada que fizer. O público poderá conferir palestras sobre as consequências das mudanças climáticas globais, além de uma exposição sobre a vida e a obra do naturalista Alessandro Malaspina.

No Rio de Janeiro, uma palestra será realizada no dia 14 de janeiro, às 18h, no Instituto Cervantes de Botafogo. Participará do evento o comandante do navio, Juan Antonio Aquillar Cavanillas, além dos três brasileiros envolvidos no projeto e do chefe científico da expedição, o pesquisador do CSIC Pep Gasol.

O Hespérides ficará aberto à visitação em cada parada que fizer

O navio ficará aberto à visitação de 8h30 às 17h do dia 15, no Pier Mauá. O número de vagas para a visitação guiada é limitado e os interessados devem se inscrever por meio do endereço eletrônico [email protected], até o dia 12.

Quem não puder conferir o navio ao vivo pode entrar na página de visita virtual, onde é possível acompanhar o trajeto da embarcação e verificar a localização das boias lançadas à água, além de ter acesso a fotos e vídeos da expedição.

Confira mais imagens da expedição Malaspina 2010

Alessandro Malaspina: de herói a traidor

Alessandro MalaspinaO italiano Alessandro Malaspina (1754-1810) passou a maior parte de sua vida como oficial naval da Espanha. De 1789 a 1794, coordenou a primeira expedição científica espanhola com o objetivo de explorar todas as possessões do reino nas Américas e na Ásia.

Devido ao sucesso da empreitada, Malaspina foi promovido, mas logo depois foi acusado de conspiração, preso e exilado. Por causa desse incidente, sua expedição ficou esquecida durante muitos anos.

 

Assista a um vídeo sobre a expedição Malaspina 2010:

 

 

 

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line