Fabricado adoçante 1400 vezes mais doce que açúcar comum

O mercado brasileiro poderá contar, dentro de alguns anos, com um poderoso adoçante 1400 vezes mais doce que o açúcar comum. A nova substância tem grande estabilidade química e, por isso, não reage com os alimentos nem interfere no seu gosto. Além disso, ela é menos calórica que a maioria dos outros adoçantes e poderá ser usada no tratamento de diabetes e para emagrecimento. O composto está em desenvolvimento no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e está prestes a entrar na fase de testes toxicológicos, que deve durar dois anos.

O adoçante da Unicamp é derivado de uma molécula encontrada em uma árvore nativa da África do Sul. O composto foi descoberto em 1992 após pesquisadores observarem que tribos africanas usavam um chá preparado com a casca do tronco da Schlerochiton illicifolius para adoçarem a comida. No entanto, os cientistas brasileiros não podiam extrair a monatina da planta, pois esse processo é patenteado por uma universidade sul-africana. Foi preciso sintetizá-la nos laboratórios da Unicamp a partir do aminoácido ácido glutâmico — principal componente da substância.

No entanto, nem a monatina sintética obtida no Brasil poderia ser comercializada, pois também os direitos de exploração comercial da substância são reservados — por uma empresa sul-africana desta vez. A solução foi identificar na estrutura da monatina o que a leva a ter seu sabor doce. Isso é o que fez em seu mestrado a pesquisadora Edicléa Cristina Camargo, que também sintetizou a partir do ácido glutâmico substâncias derivadas da monatina com característica adoçante.

“Se fizermos modificações químicas na estrutura da monatina e ela continuar doce poderemos explorar essa nova substância sem desrespeitar a restrição da empresa sul-africana”, explica o químico Fernando Coelho, um dos coordenadores do estudo para a obtenção do adoçante.

 

 

Durante os novos estudos para se obter o adoçante, os pesquisadores descobriram substâncias intermediárias entre o ácido glutâmico e a monatina e seus derivados que se assemelham ao próprio ácido glutâmico. Essa substância, embora seja um aminoácido essencial na síntese protéica dos seres humanos, atua como degenerador cerebral quando é liberada no espaço intercelular do cérebro.

Os resultados obtidos até aqui sugerem que as substâncias intermediárias isoladas durante o processo de obtenção do adoçante poderiam até atuar no combate a doenças neurodegenerativas como o mal de Parkinson e Alzheimer. Se aplicadas entre as células nervosas do cérebro, elas ocupariam o espaço em que a presença do ácido glutâmico seria nociva e evitariam assim a degeneração.

O próximo passo do estudo será a realização de testes toxicológicos. “O fato de a monatina ser consumida há tempos por seres humanos, porém, indica que ela não é tóxica”, explica Fernando. “É importante que os adoçantes sejam desprovidos de efeitos colaterais, pois são consumidos por uma larga parcela da população em doses diárias.”

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
18/06/03