Francis Crick falece aos 88 anos

 

Francis Crick falece aos 88 anos Aos 88 anos, faleceu em 28 de julho o britânico Francis Crick, em decorrência de um câncer de cólon. Crick se tornou mundialmente conhecido após desvendar, ao lado do norte-americano James Watson, a estrutura em dupla hélice da molécula de DNA.

null

Watson e Crick com o modelo original da estrutura do DNA

Pela descoberta — uma das mais significativas da ciência no século 20 –, ambos levaram o Nobel de medicina de 1962, que dividiram com Maurice Wilkins. O feito representou uma revolução na biologia molecular e abriu as portas para o advento da genômica e da engenharia genética.

Apesar de ter contribuído para abalar os rumos da biologia, a formação de Crick era na área de física, que tinha estudado na University College, em Londres. Ele começou a se interessar pela biologia molecular após a Segunda Guerra Mundial, quando foi para a Universidade de Cambridge. Em seu doutorado, pesquisou a estrutura das proteínas com a técnica de difração de raios-X.

Foi em Cambridge que Crick estabeleceu a parceria de sucesso com James Watson, especialista em genética molecular. A estrutura do DNA foi descrita em um artigo histórico assinado por ambos e publicado na revista Nature em 25 de abril de 1953. Crick, que nascera a 8 de junho de 1916 em Northampton, tinha então 36 anos.

Após ajudar a desvendar o enigma da dupla hélice, Crick continuou a realizar estudos fundamentais na área de genética. Em 1966, ele realizaria uma outra descoberta expressiva, ao lado do britânico Sydney Brenner desta vez: a dupla esclareceu a natureza do código genético ao mostrar que cada seqüência de três bases (as ‘letras’ do genoma) dava origem a um aminoácido das proteínas sintetizadas a partir das ‘instruções’ do DNA.

Em 1977, no entanto, Crick decide mudar o rumo de sua carreira acadêmica, após uma trajetória coroada de sucesso. O britânico se transfere então para o Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, e passa a se dedicar à neurociência. Crick pretendia desvendar a natureza da mente: fascinado pelo mistério da consciência, ele dedicaria as décadas seguintes a estudos para esclarecer sua contrapartida cerebral.

Ao final de sua carreira, Crick contabilizava 130 artigos e vários livros publicados, além do Nobel e uma série de outros prêmios. Em nota à imprensa, James Watson lamentou a perda do colega. “Vou sempre me lembrar de Francis por sua inteligência extraordinariamente precisa e pelas várias formas com que me mostrou gentileza e desenvolveu minha autoconfiança”, escreveu. “Estar com ele por dois anos em um pequeno quarto em Cambridge foi um verdadeiro privilégio.”

 

 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
29/07/04