Futebol para cientistas

Nem só de suor e garra é feito o esporte mais popular do mundo. Hoje, o futebol é um fenômeno que vai além da esfera meramente recreativa: a otimização do desempenho dos atletas envolve o empenho de médicos, nutricionistas, engenheiros e fisioterapeutas. As teorias e técnicas científicas que contribuíram para a evolução desse esporte são tema do livro Ciência do futebol , que reúne artigos de 16 cientistas, organizados pelo médico Turíbio Leite de Barros e pela nutricionista Isabela Guerra.

O livro mostra que, por trás do esporte, existe muita ciência. Bons jogadores não dependem apenas de seu próprio talento, mas são o resultado de um trabalho conjunto de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Os artigos tratam de temas que vão das principais lesões no futebol à biomecânica do chute.

A profissionalização desse esporte chegou a um nível tão alto que não basta que o jogador tenha apenas habilidade com os pés. O atleta não precisa ter a velocidade de um corredor de 100 metros rasos, a força de um halterofilista, a flexibilidade de um ginasta ou a capacidade aeróbica e resistência de um maratonista, mas deve apresentar todos esses atributos em equilíbrio para que o talento e a genialidade do craque possam se destacar.

Os temas do livro não se limitam ao desenvolvimento físico do atleta. Um dos artigos trata da importância das condições psicológicas do jogador durante um campeonato. Como o futebol envolve hoje diversos interesses financeiros e recebe grande atenção da mídia, a pressão do clube, da torcida e dos patrocinadores pode ser decisiva para o êxito numa partida. Portanto, não basta que o jogador tenha aptidão física (velocidade, força, agilidade e elasticidade) e habilidades técnico-táticas (chute, domínio de bola, posicionamento em campo). É importante que ele desenvolva sua autoconfiança e mantenha um estado mental equilibrado e resistente ao estresse.

O livro também desmistifica esse esporte como um universo exclusivamente masculino em um artigo que aborda o futebol feminino. Com o crescimento da participação das mulheres a partir dos anos 1980, principalmente nos EUA, o futebol feminino tem atraído multidões. No entanto, apesar dessa expansão, o autor do artigo, o médico americano Donald Kirkendall, conclui que as mulheres ainda têm um longo caminho a percorrer para alcançar o desempenho dos homens.

A sistematização do conhecimento sobre o futebol é feita no livro de maneira bastante detalhada e técnica, o que torna sua leitura indicada sobretudo para profissionais das áreas de educação física, psicologia, nutrição e medicina. Porém, esse tratamento acadêmico não torna a leitura da obra menos atraente e enriquecedora a todos os amantes desse esporte.

 

Ciência do futebol
Turibio Leite de Barros e Isabela Guerra (org.)
São Paulo, 2004, Editora Manole (11 4196-6000)
338 páginas – R$ 48,60

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
31/03/04