Cérebros!

É o sonho de qualquer zumbi de filme de terror: uma galeria inteira ocupada por cérebros. Fatiados, inteiros, em vidros, secos, fotografias de cérebros, moldes, esculturas. A exposição, singelamente nomeada Brains (cérebros, em inglês), que está em cartaz na Wellcome Collection de Londres, deixa bem claro, logo na entrada, que o assunto não é a mente. É o cérebro, físico, aquele órgão enrugado que há milhares de anos fascina a humanidade.

“Esta exposição não é sobre o que os cérebros fazem por nós, mas o que nós fazemos com eles”

“[Esta exposição] não é sobre o que os cérebros fazem por nós, mas o que nós fazemos com eles”, é o texto logo na entrada. Na parede ao lado, em letras menores: “Esta exposição contém imagens e objetos que alguns visitantes podem achar perturbadores”, provavelmente se referindo a alguns dos vídeos mostrando operações no cérebro (afinal, esta é a Wellcome Collection, que fica no meio do caminho entre uma galeria de arte e um museu de medicina).

Mexer e futucar a massa encefálica é algo que a humanidade faz há milhares de anos. É possível ver na exposição um crânio da Idade do Bronze com sinais de uma trepanação, uma das primeiras operações cerebrais de que se tem notícia, que consistia em abrir buracos no crânio.

Há também as histórias tocantes de pacientes do começo do século 20, fotografados antes ou depois de operações cirúrgicas. Aliás, a técnica para neurocirurgias pode ter evoluído, mas a parte de serrar e abrir o crânio nunca vai ser considerada delicada. Instrumentos lembram o quanto o cérebro, esse órgão tão exposto nessa galeria, fica protegido dentro do nosso corpo.

Cérebros ilustres

Em paralelo às operações neurológicas, o estudo anatômico do cérebro, principalmente nos séculos 19 e 20, buscava entender a mente por meio das propriedades físicas do órgão. Cientistas estudavam cérebros de criminosos ou de pessoas geniais para tentar entender de onde vinham aquelas características.

Cérebro de Helen
Cérebro da sufragista Helen H. Gardener. (crédito: Burt Green Wilder Brain Collection, Cornell University; foto: Peter Ross)

A técnica pode não ter levado a muitos avanços científicos, mas é graças a ela que nessa exposição podemos dar uma olhada, bem de perto, em cérebros famosos como os de Einstein (na verdade, duas lâminas manchadas, duas fotos e um molde em resina), da sufragista Helen H. Gardener, do matemático e ‘pai do computador’ Charles Babbage e do assassino William Burke, escocês que no século 19 matava e vendia os corpos das vítimas para serem dissecados na Universidade de Medicina – e que acabou também dissecado após ser condenado à forca.

Ao lado de uma carta da médica Anita Newcomb McGee, datada de 1896, oferecendo para estudo o cérebro de seu bebê que estava morrendo de meningite, veem-se as imagens e ouvem-se os depoimentos de sorridentes idosos contemporâneos, entusiasmados com a perspectiva de terem seus cérebros igualmente escarafunchados por pesquisadores após sua morte. Hoje em dia o estudo anatômico do cérebro é feito para se tentar entender melhor doenças degenerativas como o Alzheimer. Ou seja, a doação de cérebros para pesquisa continua relevante.

Órgãos e tecidos conservados e modelos de cérebros de diversos animais dividem espaço na galeria com obras de arte como as esculturas de Katharine Dowson, onde se vê seu próprio cérebro, ou o tumor no cérebro de seu primo, gravados a laser em um cristal – as esculturas têm uma leveza que o órgão de verdade não tem.

Arte cerebral
‘My Soul (Minha Alma)’, obra feita em 2005 pela escultora Katharine Dowson em que se veem as formas de seu próprio cérebro gravadas a ‘laser’ em um cristal. (foto: Katharine Dowson e GV Art)

Perto da saída, ao lado de poltronas e livros disponíveis para consulta, uma parede inteira está coberta com pôsteres de filmes B sobre… cérebros. Há desde títulos conhecidos como Frankenstein ou O homem com dois cérebros, com Steve Martin, até histórias de cérebros vindos do espaço ou transplantes de cérebros. Todos têm os cérebros como protagonistas, o que talvez explique a ausência dos filmes de zumbis comedores de massa encefálica, onde o órgão mais importante do nosso corpo é tão somente o prato principal.

Confira mais imagens da exposição.


Barbara Axt

Especial para a CH On-line/ Londres