Flora desconhecida

Objetivo audacioso: “revelar o desconhecido mundo das plantas raras no Brasil”. Foi uma empreitada difícil, mas o resultado valeu a pena.

Após incontáveis expedições e exaustivos levantamentos florísticos por todo o país, pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), em parceria com a Conservação Internacional, concluíram o projeto ‘Plantas raras do Brasil’, que resultou na publicação de um livro e no lançamento de um site, que vêm servindo como valioso material de consulta para especialistas e entusiastas.

Vale a pergunta: você sabe quais são as espécies vegetais raras que ocorrem em sua região? Assumindo que você não seja um botânico, a resposta provável é ‘não’. Pois bem, se estiver curioso, não custa dar uma passadinha nesse inusitado sistema de buscas on-line.

Vale a pergunta: você sabe quais são as espécies vegetais raras que ocorrem em sua região?

É simples e interessante. Digamos que você mora em São José dos Cordeiros, na Paraíba. Após selecionar sua região nos campos de busca, o sistema lhe mostrará que, por essas bandas, vive a solitária Tournefortia andrade-limae.

Ou talvez você more em uma capital urbanoide, como Porto Alegre (RS). Nesse caso, descobrirá que a Tillandsia jonesii, uma bromélia, é a planta rara da região.

Paragens remotas como Igarapé do Cauará (AM) ou Caetité (BA) também estão mapeadas. Assim como o Pico das Almas (BA), Rancho Queimado (SC) e por aí vai. O banco de dados registra milhares de localidades que variam desde Rio de Janeiro (RJ) até Espigão Mestre (BA), passando por Xique-xique (BA), Lama Preta (GO) e mesmo Taguatinga de Goiás, que, curiosamente, fica no Tocantins.

Idos alguns instantes nessa informativa exploração virtual, você descobrirá duas coisas: (1) o Brasil tem cidades com nomes relativamente engraçados; e (2) dependendo de onde moramos, pode haver plantas raras logo abaixo de nosso nariz, sem que sequer saibamos de sua existência ou de sua importância científica.

Plantas e números

“O Brasil é o país que abriga a flora mais rica do planeta”, escrevem os autores na introdução do livro.

Calcula-se que existam em nosso território algo entre 35 e 55 mil espécies vegetais (sempre lembrando que são dados subestimados). Destas, 2.291 são consideradas raras – por terem uma área de distribuição inferior a 10.000 km2.

O projeto ‘Plantas raras do Brasil’, que ainda está em andamento, tem uma dimensão prática: definir áreas prioritárias para conservação. Já são 752 áreas propostas – mapeadas na publicação – que se espalham por todo o território nacional.

Sauvagesia langevianae
‘Sauvagesia langevianae’, fotografada em Rio Vermelho (MG). Os idealizadores do projeto pretendem definir áreas prioritárias para conservação das espécies. Já são 752 áreas propostas em todo o território nacional. (foto: Domingos Cardoso)

Para os interessados no assunto, vale checar os textos na íntegra e as belas fotografias que ilustram o livro. E, para os mais curiosos, o site Enciclopédia da Vida (do qual já falamos anteriormente) pode ser uma boa ferramenta complementar. Mas se você for mesmo um aficionado por plantas, seu lugar é o Flora Brasiliensis. Lá encontrará um importante registro histórico e científico que, para alguns, é um dos tesouros da botânica brasileira.

Confira galeria de imagens de outras espécies raras identificadas

 

Biodiversidade em xeque

Preservação de espécies é assunto sério. Discussões a respeito já são rotina; o tema está em alta especialmente depois que, em 2009, um artigo publicado na Nature lançou novos olhares sobre a problemática.

O cientista sueco Johan Rockström, do Stockholm Resilience Centre, propôs o conceito de “limites do planeta”, hoje amplamente aceito pela comunidade científica. Segundo o pesquisador, as pressões ambientais mais severas que nossa civilização exerce sobre o sistema terrestre são três: perda de biodiversidade, ciclo do nitrogênio e mudanças climáticas, nessa ordem de importância.

Portanto, a preservação de plantas – raras ou não – relaciona-se ao que Rockström aponta como a mais séria questão ambiental de nosso tempo, na qual a pressão antrópica já excedeu os limites seguros que possibilitariam a regeneração natural dos sistemas vivos.

Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ