Improváveis, divertidos e premiados

Besouros que se orientam pelas estrelas, vacas preguiçosas e a incrível confirmação de que pessoas podem andar sobre as águas foram alguns dos destaques da edição deste ano do IgNobel, a paródia do Nobel que premia as pesquisas que te fazem primeiro rir, para depois pensar.

Organizada pela equipe da revista de humor científico Annals of Improbable Research, a premiação é realizada todo ano no teatro da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com a ilustre presença dos ‘nobéis’, que entregam os prêmios em mãos aos ‘ignóbeis’. Nesta edição, foram 10 trilhões de dólares para cada laureado. Dez trilhões de dólares do Zimbábue, mais precisamente – ou 4 dólares americanos.

A quantia não chega perto da necessária para construir o dispositivo que rendeu ao seu inventor, o norte-americano Gustano Pizzo, o IgNobel (post mortem) de Engenharia de Segurança. Vinte e nove anos antes do ataque de 11 de setembro, o engenheiro imaginou e conseguiu a patente de um peculiar sistema de segurança antissequestro de aviões.

Nesta edição, foram 10 trilhões de dólares para cada laureado. Dez trilhões de dólares do Zimbábue, mais precisamente – ou 4 dólares americanos

O sistema consiste em uma inteligente armadilha que encurralaria o sequestrador entre portas quando ele tentasse se aproximar da cabine do piloto. Preso entre a área dos passageiros e a cabine, o criminoso seria automaticamente selado dentro de um pacote acoplado a um paraquedas e ejetado para fora da aeronave. O inventor só não pensou no que fazer com o sequestrador depois disso!

Talvez ele devesse ser extraditado para o Sião, terra natal do grupo de cientistas que levou o IgNobel de Saúde Pública por descrever técnicas de cirurgia para tratar a “epidemia de amputações penianas” do país. Um trabalho muito nobre, mas que não vale para as “amputações provocadas por mordidas de pato”.

Qual a probabilidade de um acidente desses? Não sabemos. Talvez a resposta seja uma tarefa para os laureados com o prêmio de Probabilidade. Os pesquisadores, da Escola Rural da Escócia, deviam estar vivendo um período de vacas magras para financiamento de estudos quando resolveram verificar, em campo, se o tempo que uma vaca passa de pé influencia a probabilidade de que ela se deite.

Vacas
Aparentemente, as vacas não seguem padrões previsíveis quando se trata de deitar e levantar. (foto: Leo Vietor/ Flickr CC-BY-2.0)

Para ter a reposta, eles acompanharam a movimentação de vacas de duas fazendas com podômetros. A pertinente hipótese da equipe era a de que quanto mais tempo uma vaca passasse de pé, mais provável seria que ela se deitasse. Porém, contrariando expectativas, esse não foi o resultado do trabalho.

Eles observaram que mesmo as vacas que ficavam seis horas de pé tinham a mesma chance de se deitar que aquelas que estavam sobre as quatro patas por apenas 15 minutos. “Sempre esperamos que essas vacas fossem mais motivadas a se deitar, mas elas só ficavam zanzando de um lado para outro e nunca faziam o que esperávamos que fizessem”, desabafou um dos autores do estudo, Bert Tolkamp, durante seu breve discurso na premiação.

Deitar, caminhar e correr

Também da área da zoologia foi o premio IgNobel da inédita categoria Biologia e Astronomia, concedido a pesquisadores suecos responsáveis pela singela e poética descoberta de que os besouros rola-bosta (Scarabaeus satyrus) se orientam espacialmente pelo brilho da Via Láctea. 

Para comprovar a teoria, eles colocaram alguns besouros em arenas sob diferentes condições. Alguns tinham como plano de fundo um céu com a Via Láctea e outros apenas algumas estrelas. Os insetos também chegaram a ter os olhos vendados com cartolina.

Confira um teste de corrida sobre a água em baixa gravidade

No final das contas, os pesquisadores perceberam que, com a visão coberta ou com um céu sem o brilho da nossa galáxia, os besouros não conseguiam fazer o percurso de um lado ao outro da arena em linha reta. Também, olhar para um céu estrelado é o mínimo que merece quem vive a vida rolando bosta.

A sina do besouro de caminhar sobre a terra lembra outro IgNobel deste ano, o de Física.  O estudo, de italianos, deixou comprovado que algumas pessoas têm a capacidade bíblica de correr sobre as águas de um lago. Com uma pequena condição, é claro: que tanto a pessoa quanto o lago estejam na Lua. “Quem nunca sonhou em andar sobre a água?”, indagou o líder da pesquisa, Alberto Minetti. “Alguns pássaros e lagartos podem e mostramos que humanos também. Basta uma pequena viagem.”

Confira os premiados nas demais categorias
Química: Concedido aos pesquisadores japoneses que identificaram a enzima da cebola responsável por nos fazer chorar. 

Medicina: Para os cientistas também japoneses que estudaram o efeito da ópera sobre camundongos que passaram por transplante de coração e comprovaram que ouvir música erudita melhora sua recuperação.

Arqueologia: Para Peter Stahl, da Universidade Estadual de Nova York, por engolir sem mastigar um musaranho (pequeno roedor) morto e parboilizado (parcialmente cozido) para saber quais ossos seriam digeridos pelo sistema digestório humano.

Psicologia: Para pesquisadores que mostraram por meio de experiências que as pessoas que pensam que estão bêbadas também pensam que estão mais atraentes.

Paz: Para o presidente da Bielorússia Alexander Lukashenko, por proibir os aplausos em espaços públicos, e para a polícia do país, por prender um homem (com apenas um braço) por desrespeitar essa regra. 

 

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

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