Um equipamento capaz de dissolver diferentes materiais, conhecido como ‘digestor’, é essencial para pesquisadores de áreas como química e biologia e até em laboratórios de ciência forense. Tanto quanto útil, o aparelho é caro.
Uma solução de baixo custo foi o que rendeu ao técnico em bioquímica Marcos Aurélio Machado, de Campinas (SP), a última edição do prêmio nacional de inovação, na categoria inventor, concedido pela Financiadora Nacional de Estudos e Projetos (Finep).
O invento de Machado é simples. Utiliza uma pequena quantidade de determinado ácido (que depende da substância a ser digerida) e micro-ondas. A radiação do aparelho aquece o ácido, fazendo a temperatura e a pressão no seu interior subirem e provocando a quebra molecular do composto que estiver dentro. A amostra ‘digerida‘ pode, então, ser analisada a fim de se saber que elementos estão presentes.
Uma unidade de digestão tem capacidade para até 100 gramas de qualquer amostra. O tempo necessário para a ação varia de acordo com o material introduzido no equipamento. Substâncias de origem mineral ou cerâmica precisam de 5 a 15 minutos, enquanto compostos orgânicos, de 3 a 5 minutos.
Polímeros inorgânicos, como plástico ou silicone, levam cerca de 20 a 30 minutos. Já compostos considerados mais complexos, como a grafite, podem levar até uma hora para serem dissolvidos. Em todos os casos a quantidade de ácido necessária é de 30 ml a 60 ml.
Qualquer tipo de material pode passar pelo processo, desde aço e cerâmica até cabelo. “Se eu quiser saber se um indivíduo disparou um revólver, por exemplo, posso dissolver resíduos de sua pele no digestor”, diz o inventor. A presença de pólvora na pele é uma prova do uso de arma de fogo.
Entre outras aplicações práticas, o equipamento pode ser utilizado para detectar metais pesados em alimentos; determinar a composição de cerâmicas, cimentos e ligas metálicas; identificar nutrientes no solo para correção e adubagem; analisar minerais presentes no sangue ou no cabelo humano.
Mais barato
Embora a tecnologia não seja inédita, os digestores em uso no mercado brasileiro são importados e custam caro – o valor pode chegar a 40 mil dólares. “Minha ideia era criar uma tecnologia nacional e barata que pudesse atender às necessidades dos laboratórios”, explica Machado.
Seu invento é feito todo em plástico de engenharia, o que deixa o produto pelo menos cinco vezes mais barato que o importado. Como o dispositivo é montado sob encaixe, não possui roscas e dispensa ferramentas adicionais, é de fácil utilização em laboratórios.
“Se o equipamento estrangeiro mais barato custa seis mil dólares, o meu não passa de 1.200”, afirma. Além disso, o dispositivo criado pelo brasileiro não apresenta risco de explosão e suporta temperaturas de até 220°C.
Foram necessários quatro anos de pesquisa para chegar ao resultado esperado. “Trabalhei em cima de algo que já existia para aprimorar a técnica de digestão de amostras e popularizá-la entre empresas”, completa Machado.
O produto já é comercializado e, segundo o pesquisador, até o início deste mês haviam sido vendidos em todo o país cerca de 300 conjuntos do equipamento, cada um com seis a 12 de unidades de digestão.
Marina Sequinel
Especial para a CH On-line/ PR