Um novo tratamento poderá livrar portadores de diabetes tipo 1 das aplicações de insulina. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto testaram o uso de células-tronco dos próprios pacientes após o emprego de um curto período de quimioterapia para tratar a doença. O resultado inédito foi a volta da produção de insulina pelos pacientes e a suspensão por tempo indeterminado das injeções do hormônio na maioria dos casos.
Dos 23 portadores de diabetes tipo 1 que receberam o tratamento com células-tronco, doze eliminaram por tempo indeterminado a necessidade de injeções diárias de insulina (foto: Brian Hoskins/ sxc.hu).
O diabetes tipo 1 acomete principalmente crianças e jovens. Mais rara que o diabetes tipo 2, a doença é considerada uma disfunção do sistema imune, que resolve atacar as células do corpo produtoras de insulina, um hormônio que regula o nível de açúcar no sangue. Como o organismo produz cada vez menos insulina, os pacientes são obrigados a receber injeções diárias da substância por toda a vida.
“Essa é a primeira vez que pacientes conseguem voltar a produzir insulina”, comemora o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, um dos autores do estudo. “Normalmente, os níveis do hormônio no sangue dos diabéticos reduzem-se a cada ano, mas nós conseguimos o contrário.”
O estudo começou em 2003, quando 23 pacientes com diabetes tipo 1 recém-diagnosticado tiveram o sangue coletado. Durante cinco dias, eles passaram por sessões de quimioterapia, tratamento que representa uma forte agressão ao sistema imune. No sexto dia, os pacientes receberam as células-tronco extraídas do sangue coletado e elas promoveram a regeneração de seu sistema imunológico.
Produção natural de insulina
Ao longo de quatro anos, os pacientes, que tinham entre 13 e 31 anos, foram acompanhados periodicamente. Todos eles apresentaram significativo aumento na produção de insulina e doze conseguiram se ver completamente livres das aplicações do hormônio sintético.
Apesar da volta da produção natural de insulina, três pacientes precisaram continuar recebendo as injeções ininterruptamente e oito receberam o hormônio sintético por alguns meses – ainda que em quantidades bem menores que as usadas antes do tratamento.
“É bom lembrar que nós não falamos em cura”, alerta Couri. “O diabetes é uma doença crônica que requer controle constante. Só o tempo vai dizer se eles estão realmente curados ou não.”
Tratamento combinado
Em dois pacientes que não tiveram aumento na produção de insulina suficiente para a suspensão das injeções, a equipe de pesquisadores testou um medicamento indicado somente para pacientes com diabetes tipo 2, chamado sitagliptina.
“Essa droga é recente e apresenta excelentes resultados em pacientes com o tipo 2 da doença, mas nunca havia sido testada em pacientes com o tipo 1”, diz Couri. Os médicos esperavam que a droga ajudasse a estimular a produção própria de insulina, mas se depararam com um quadro ainda melhor: a produção se normalizou com o uso de um comprimido por dia, e os pacientes não precisaram mais do hormônio sintético.
Couri alerta que, apesar dos bons resultados, a droga não deve ser utilizada por pacientes que apresentam o tipo 1 da doença. “Utilizamos somente nesse caso específico. A sitagliptina ainda precisa de muitos estudos para ser indicada a esses pacientes.”
O estudo foi publicado na edição de 15 de abril do periódico da Associação Médica Americana (Jama). A equipe continua trabalhando em busca de tratamentos menos agressivos e mais baratos para o diabetes tipo 1. Agora, eles estudam o uso de células-tronco mesenquimais, presentes na medula óssea, que poderiam bloquear a ação do sistema imune contra células do próprio corpo sem a necessidade do uso anterior de quimioterapia para debilitá-lo.
Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
27/04/2009