Hortaliças são importantes veículos de transmissão de vermes. Portanto, lavá-las antes de comer é fundamental para evitar uma infestação. Esse cuidado muitas vezes é dispensado com os chamados vegetais minimamente processados, vendidos higienizados em embalagem fechada, supostamente ‘prontos para consumo’.
O que pouca gente sabe é que as análises laboratoriais desses produtos feitas por órgãos de vigilância sanitária nem sempre são suficientes para evitar a comercialização de verduras contaminadas com ovos e larvas de helmintos. Em dissertação defendida recentemente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a bióloga Flaviane Matosinhos propôs uma metodologia mais eficiente para detecção desses parasitas que pode ajudar a reduzir o problema.
A técnica será usada nos laboratórios da Fundação Ezequiel Dias (Funed), responsável pela vigilância sanitária em Minas Gerais, e, agora que foi publicada, está disponível para adoção por laboratórios de outros estados brasileiros.
Para chegar ao método ideal de detecção de helmintos, Matosinhos contaminou folhas de alface com ovos e larvas de Ancylostoma ceylanicum e com ovos de Ancylostoma caninum e Ascaris suum.
Os ancilostomídeos foram escolhidos em razão da alta frequência em que aparecem nos resultados de análise parasitológica de verduras. São causadores da ancilostomíase, doença popularmente chamada de amarelão por provocar anemia e palidez no portador.
Já a espécie A. suum foi utilizada por ser bastante diferente dos ancilostomídeos e, ao mesmo tempo, ter características em comum com A. lumbricoides, responsável pela ascaridíase, doença conhecida como lombriga, que em casos graves pode causar hemorragias internas e levar o hospedeiro à morte. Ovos de A. suum estavam disponíveis mais facilmente para o estudo do que os de A. lumbricoides.
Técnica superior
O melhor método entre os testados pela bióloga consiste em imergir as folhas de alface em uma solução à base do aminoácido glicina, agitar a mistura manualmente durante três minutos e deixar o líquido sedimentar por, no mínimo, duas horas. Após esse período, os sedimentos em suspensão são retirados e examinados em microscópio óptico.
Matosinhos conta que os testes foram feitos com diferentes níveis de contaminação. “Partimos de 3,3 ovos de helminto por grama de alface até chegar em 0,2.” Mesmo na menor concentração, o método escolhido teve sensibilidade (identificação correta de contaminação ou não) sempre acima de 90% – no caso de ovos de A. suum alcançou 100%. Não houve caso de falso positivo.
Segundo a bióloga, amostras contaminadas e não contaminadas foram enviadas para análise por esse método em laboratórios independentes, que não tinham conhecimento da presença ou não de vermes. O índice de detecção se manteve nos mesmos níveis obtidos na UFMG.
Além da sensibilidade, outro dado que atesta a qualidade do método é a quantidade de ovos ou larvas identificados em uma amostra contaminada. Para se ter uma ideia, de cada 100 ovos que contaminam uma folha de alface, a metodologia adotada pelo FDA, órgão do governo norte-americano responsável pelo controle de drogas e alimentos no país, é capaz de detectar apenas 10. A análise padronizada por Matosinhos chega a 62.
A pesquisadora escolheu a alface nos experimentos por se tratar de uma das hortaliças mais comercializadas do Brasil. Ela explica que o modelo que padronizou pode ser utilizado para outras hortaliças, mas, para isso, é preciso realizar testes específicos. “Fizemos testes com rúcula e os resultados foram similares, mas, dependendo do vegetal utilizado, os efeitos podem não ser os mesmos”, diz.
Estudo publicado em 2003 no periódico Trends in Parasitology estima que no mundo haja mais de 2,7 bilhões de pessoas infestadas com helmintos.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR