Mais antigo Homo sapiens encontrado na Etiópia

Fósseis do mais antigo Homo sapiens descoberto até hoje foram desenterrados em um sítio paleontológico na Etiópia. Estima-se que datem de cerca de 160 mil anos atrás. A descoberta apóia a teoria segundo a qual o homem moderno evoluiu na África e depois se espalhou pelos outros continentes. O estudo foi feito por paleontólogos, geólogos e arqueólogos de 14 países, liderados por Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). Em dois artigos publicados na revista Nature de 12 de junho, os pesquisadores descrevem os crânios fossilizados de dois adultos e uma criança encontrados na vila de Herto, 230 quilômetros a nordeste da capital Adis Abeba.

O crânio acima é o mais bem conservado entre os fósseis encontrados da nova subespécie. Os dentes gastos indicam que esse indivíduo tinha cerca de 30 anos

Um dos crânios de adulto é o mais completo dos fósseis: só lhe falta a mandíbula. Os dois outros fósseis estavam quebrados; mais de 200 pedaços do crânio de criança foram recuperados em uma área de cerca de 400 m 2 . Também foram encontrados dentes isolados e pedaços de crânios de outros sete indivíduos.

As peças foram datadas pelo método de aquecimento com laser de argônio, pois a idade dos fósseis era muito avançada para uma datação precisa por carbono-14. A técnica adotada determina a idade das camadas do solo abaixo e acima dos fósseis e estabelece assim a idade mínima e máxima para eles (no caso, 154 mil e 160 mil anos).

A nova subespécie, chamada de Homo sapiens idaltu , preenche uma lacuna no registro fóssil humano. Os homens de Herto se situam, morfológica e cronologicamente, entre hominídeos mais primitivos (também encontrados na África) e os humanos atuais — da subespécie Homo sapiens sapiens . Os fósseis apresentam características arcaicas, como a grande distância entre as órbitas oculares, a posição dos dentes ou o tamanho do crânio (maior que o de humanos atuais), ao lado de padrões tipicamente modernos, como a forma globular da caixa craniana ou a crista da sobrancelha menos proeminente.

Duas teorias principais explicam a origem do H. sapiens . Alguns cientistas defendem a hipótese ‘multirregional’, segundo a qual as características do homem moderno surgiram independentemente em populações de hominídeos espalhadas por diferentes regiões do Velho Mundo. Segundo essa teoria, os europeus seriam descendentes diretos dos homens de Neanderthal.

A subespécie de Herto fortalece a segunda hipótese: a de que os humanos modernos se desenvolveram na África e depois se espalharam pelos outros continentes. Essa teoria é reforçada por estudos anteriores que apontam uma maior diversidade genética nas populações africanas que em povos de outras regiões do globo. Além disso, a idade dos fósseis aproxima-se muito de estimativas obtidas por análise genética para a origem do homem moderno.

“A anatomia e a idade dos fósseis de Herto mostram que os humanos modernos apareceram na África muito antes do desaparecimento dos neandertais europeus”, diz F. Clark Howell, co-autor do estudo. “Isso demonstra que decisivamente nunca houve um estágio neandertal na evolução humana.”

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
12/06/03