Mais perto do elixir da juventude?

Imagine nascer com uma expectativa de vida de um século. E poder conversar com seu tataravô que passou dos 120 anos. Para o médico russo Vladimir Khavinson, uma das maiores autoridades mundiais em medicina da longevidade, já existe conhecimento suficiente para retardar o envelhecimento, e atingir esses objetivos é questão de tempo. Pouco tempo.

Há mais de três décadas, Khavinson e seus colaboradores da Universidade de São Petersburgo (Rússia) vêm testando em animais um tratamento que proporcionou real aumento na longevidade. Ratos, camundongos e moscas do gênero Drosophila tiveram uma vida de 20% a 40% mais longa do que animais da mesma espécie que não receberam o tratamento.

O médico apresentou seu trabalho durante o I Congresso de Medicina da Longevidade, organizado em outubro no Brasil pelo Grupo de Longevidade Saudável, dirigido pelo médico brasileiro Ítalo Rachid, referência nacional na área. Para Rachid, os resultados atingidos pelo grupo de Khavinson são espetaculares. “Estamos vivendo uma revolução científica sem paralelos nos últimos 50 anos”, afirma.

A base dessa revolução é o uso dos peptídeos, moléculas formadas por pelo menos dois aminoácidos que atuam nos genes. “Eles regulam a expressão genética e aumentam os recursos do organismo, o que pode reverter o processo de envelhecimento”, explica o russo.

Vladimir Khavinson
O médico russo Vladimir Khavinson esteve no Brasil em outubro para participar do I Congresso de Medicina da Longevidade, onde apresentou os resultados de mais de três décadas de pesquisas para o desenvolvimento de um tratamento antienvelhecimento. (foto: André Pera)

Um dos principais sinais de que há um efetivo envelhecimento é a queda na síntese de proteínas, moléculas compostas por cadeias de peptídeos. “Envelhecer é uma gradual involução de tecidos e o desenvolvimento de um mau funcionamento do organismo”, diz Khavinson.

“Descobrimos que, com o envelhecimento, há uma involução do órgão central do sistema imunológico – o timo – e o do sistema neuroendocrinológico – a glândula pineal”, relata o médico, líder de um grupo de pesquisadores que tem como objetivo restaurar as funções desses órgãos por meio do estímulo à síntese proteica para proporcionar uma maior longevidade.

Rejuvenescimento

Segundo Khavinson, os hormônios produzidos pelo timo e pela glândula pineal – timosina e melatonina, respectivamente – são essenciais para a manutenção da juventude e, devido à sua origem proteica, têm sua produção suprimida com o passar dos anos.

O tratamento testado pelo pesquisador russo consiste na administração de injeções subcutâneas de preparados à base de peptídeos biorreguladores que agem facilitando a síntese desses hormônios. As drogas são produzidas após a mistura de pequenos peptídeos específicos que atuam somente no timo e na glândula pineal com uma solução salina.

Localizada próximo ao centro do cérebro, a glândula pineal tem o tamanho de uma ervilha e é responsável pela produção do peptídeo Ala-Glu-Asp-Gly, que compõe o preparado chamado Epithalamin, capaz de aumentar a produção de melatonina. O timo, por sua vez, produz outro tipo de peptídeo (Lys-Glu), base para o composto batizado de Thymalin, que aciona o gatilho para a síntese de timosina.

O tratamento também diminuiu de 1,4 a 7 vezes a incidência de câncer eo desenvolvimento de tumores induzidos em ratos e camundongos

A equipe de Khavinson detectou em diversos testes que o uso desses compostos efetivamente aumenta a longevidade animal. O resultado mais significativo impressiona: camundongos tratados com Epithalamin tiveram um acréscimo de até 40% em seu tempo de vida. O tratamento também diminuiu de 1,4 a 7 vezes a incidência de câncer e o desenvolvimento de tumores induzidos em ratos e camundongos.

O russo afirma que, em 12 anos, mais de 15 milhões de pessoas já foram tratadas com outros tipos de biorreguladores na Rússia – inclusive ele e sua família. Segundo o pesquisador, o tratamento tem ótimos resultados: hormônios como a melatonina voltaram a níveis adequados e houve melhoras na imunidade, na densidade dos ossos e nas funções cerebrais. “Além disso, não há efeitos colaterais, porque as moléculas são idênticas às naturais”, completa.

Para Khavinson, a disseminação mundial do uso humano dessas drogas é questão de tempo. “Acredito que, em 2020, meus preparados rejuvenescedores estejam sendo amplamente utilizados.”

O aumento na expectativa de vida mundial é um dos grandes sinais do desenvolvimento da medicina – e também uma das grandes preocupações econômicas atuais, principalmente em países desenvolvidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira metade da década de 1950, a longevidade média era de 46,5 anos. Os últimos dados, de 2009, mostram que esse número subiu para 68 anos. Isso significa um crescimento de pouco mais de 48% em quase 60 anos.

Khavinson ressalta, no entanto, que o envelhecimento não se relaciona à idade cronológica, mas à situação física do indivíduo. Segundo ele, há cinco fatores que influem nesse processo: genética, ecologia, estilo de vida, trabalho e doenças. “Saber equilibrar esses fatores é a chave para uma vida longeva”, conclui.

Rafael Foltram
Ciência Hoje On-line/ SP