Mais rápida e precisa

A expansão da pele é uma técnica da cirurgia plástica reparadora usada em casos de queimaduras e retiradas de marcas e manchas. Ela consiste na implantação de uma bolsa de silicone próximo à área afetada e na sua expansão por meio da injeção de soro fisiológico. É um procedimento doloroso e demorado.

O aparelho desenvolvido no Laboratório de Membranas e Biomembranas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) pretende tornar esse processo mais rápido e preciso. Apresentado na Mostra PUC-Rio, realizada entre os dias 13 e 16 de agosto, o dispositivo monitora o processo de expansão com base em dados sobre o volume e a pressão no interior da bolsa, viabilizando o controle sobre a área a ser expandida.

Com o aparelho, o médico pode medir a tensão a qual a pele está sendo submetida e seu grau de elasticidade; assim, sabe quanto pode expandir

“Quando um médico faz uma expansão, não há como avaliar o que está acontecendo com a pele”, explica a engenheira Djenane Cordeiro Pamplona, coordenadora do estudo. “Com esse aparelho, ele pode medir a tensão a qual a pele está sendo submetida e seu grau de elasticidade; assim, sabe quanto pode expandir. Antes, era o paciente que dava o limite comunicando dor.”

A pesquisadora e sua equipe pretendem monitorar o uso do dispositivo em diversos pacientes e, com isso, caracterizar a elasticidade da pele em regiões diferentes do corpo e em pessoas de diferentes idades e gênero.

Acelerando o processo

Um inconveniente da técnica tradicional de expansão da pele é que, durante todo o tratamento – que pode demorar cerca de três meses –, o paciente precisa ir com frequência ao hospital; e ainda são poucos os que oferecem o tratamento. Para aqueles que moram longe ou até mesmo em outra cidade, essa dependência pode levar à interrupção do tratamento.

Por isso, um dos objetivos dos pesquisadores é fazer com que o dispositivo, além de medir a pressão, possa também operar a bomba de soro fisiológico. Combinando as duas funções, o sistema se tornaria autônomo e permitiria que os pacientes o levassem para casa. “Eles só precisariam ir ao hospital no início do tratamento, para a implantação do expansor; o resto do procedimento poderia ser feito ambulatoriamente próximo à sua residência”, ressalta o graduando em engenharia mecânica José Carlos Lobo Santiago Neto, um dos integrantes do grupo de pesquisa.

Pele
A pele é um tecido elástico, que acaba se adaptando à pressão gerada pela bolsa expansora. Por isso, para manter a pele em expansão durante todo o tratamento, é preciso infiltrar periodicamente a bolsa, o que, em geral, é feito no hospital. (foto: Kevin Dooley/ Flickr – CC BY 2.0)

Além da comodidade para o paciente, o sistema autônomo traz outra vantagem. Normalmente, a pressão gerada pela bolsa de silicone diminui com o tempo, pois a pele, um tecido viscoelástico, acaba se adaptando. É por isso que as pessoas que se submetem ao tratamento precisam fazer visitas frequentes ao hospital, elas precisam infiltrar periodicamente a bolsa de silicone até chegar ao volume apropriado.

O sistema autônomo poderia ser usado 24 horas por dia e manteria uma pressão constante, dentro dos limites tolerados pelo paciente

O sistema autônomo poderia ser usado 24 horas por dia e manteria uma pressão constante, dentro dos limites tolerados pelo paciente. “Segundo especialistas que colaboram com a pesquisa, há a possibilidade de reduzirmos o tempo do tratamento para aproximadamente duas semanas”, afirma Santiago Neto.

Mais estudos ainda são necessários para a implementação do sistema autônomo, mas o grupo está para patentear o dispositivo em sua função de medidor de pressão e, se tudo funcionar, o aparelho pode estar disponível comercialmente em um ano.

Fred Furtado
Ciência Hoje/ RJ