Mão à obra

 

Um dos acessórios mais importantes para usuários assíduos de computador – o mouse – pode ser também um grande inimigo para o corpo. Por exigir movimentos freqüentes em posição forçada, ele é responsável pela lesão por esforço repetitivo (LER) e pelo distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (Dort), entre outros. Para amenizar o problema, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um novo tipo de mouse que, além de forçar o usuário buscar uma posição correta diante do aparelho, evita maior esforço muscular das mãos, do antebraço e do braço.
 
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O mouse desenvolvido na USP foi concebido para evitar o esforço muscular das mãos, do antebraço e do braço.

Segundo o médico responsável pelo projeto, Luiz César Peres, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, o uso do mouse convencional força a musculatura da mão e a mantém tensa. Além disso, o acionamento freqüente de botões pelo dedo indicador também favorece o surgimento de lesões. O problema se agrava quando o usuário não utiliza um apoio para o antebraço, o que é comum na maioria dos casos de LER.

 
O novo mouse apresenta formato diferente, parecido com um joystick (controle usado em jogos eletrônicos), com uma haste móvel apoiada por uma base. A posição da mão muda completamente ao segurar a haste como se escrevesse a lápis. “Desse jeito, a mão fica numa posição neutra, ou seja, nem virada para cima nem para baixo, o que diminui a fadiga muscular”, afirma o médico. “O manuseio dos botões passa a ser feito pelo dedo polegar, que é mais resistente.”
 
Há oito meses, Peres utiliza o protótipo desenvolvido por ele com ajuda de seu aluno Paulo Roberto Veiga Quemelo e também do físico Carlos Graeff, do Departamento de Física da USP, que se preocupou em elaborar um modelo funcional no que se refere à parte eletrônica. “O novo mouse funciona com fio e entrada USB, o que não foge à estrutura convencional”, ressalta o médico.
 
Além dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, pessoas que trabalham no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina também estão sendo beneficiadas com novo acessório. “Todos se adaptaram muito bem e relataram uma melhora na posição diante do computador”, diz Peres. “O mouse exige do usuário um apoio para o antebraço, o que é fundamental para que não haja esforço da musculatura tanto ao cotovelo quanto ao punho.”
 
No início deste ano, o dispositivo será submetido a testes clínicos com três etapas. Na primeira, pessoas que não apresentam lesão muscular serão avaliadas enquanto utilizam os dois tipos de mouse (o criado pelo projeto e o comercial), por meio de um exame que registra por sinais gráficos ou sonoros as correntes elétricas geradas num músculo ativo – a eletromiografia. Além disso, eles responderão questionários para avaliar aspectos como a adaptabilidade do novo aparelho.
 
Na segunda etapa, serão testados pacientes com problemas do tipo LER ou Dort. Por último, os pesquisadores pretendem analisar pessoas que têm lesões graves, como casos de paralisia dos dedos e até a amputação de dedos ou de toda a mão que costumam usar. O objetivo é verificar se esses pacientes podem se adaptar ao novo mouse .
 
Apesar do empenho e dedicação dos pesquisadores em criar um mouse ergonômico – que visa maior segurança e otimização nas condições de trabalho humano –, o produto está longe de chegar às lojas. “Já procuramos várias empresas que poderiam investir no acessório, mas nenhuma manifestou interesse”, lamenta Peres. “É difícil uma grande empresa mudar seu modo de produção quando há vantagens na venda de seus próprios produtos. Talvez coubesse a pequenas empresas a tarefa pioneira de comercializar esse mouse .”

Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
30/01/2006