Marte recriado no deserto de Utah

Marte? Não. A vista é do deserto de Utah, escolhido para abrigar a estação de pesquisa do MIT por apresentar um terreno semelhante ao que os astronautas encontrariam no planeta vermelho (foto: Phillip Cunio).

Já imaginou viver, trabalhar e se comunicar com o mundo ao seu redor como se estivesse em uma missão em Marte? Foi o que aconteceu com dois estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) no mês de fevereiro. Durante duas semanas, eles habitaram uma estação de pesquisa no deserto do estado de Utah, nos Estados Unidos, para estudar questões científicas, logísticas, mecânicas e até psicológicas que os astronautas podem vir a encontrar em futuras missões.

A base foi montada no deserto para conferir maior realismo à iniciativa, pois se trata de uma região com solo parecido ao encontrado em Marte. Os estudantes de engenharia aeronáutica Zahra Kahn e Phillip Cunio deveriam agir como se estivessem no planeta vermelho e simular a realização de pesquisas e expedições. Eles se deslocaram pelo deserto com veículos especiais, usaram trajes espaciais simulados e se alimentaram com a comida que os astronautas levam em suas missões.

Para se comunicar com os pesquisadores do lado de fora da base, o único meio possível era o correio eletrônico, que demorava 20 minutos para chegar ao destino, tempo semelhante ao que as ondas de rádio levam para atravessar a distância entre a Terra e Marte.

Segundo Kahn, o período na estação é uma ótima oportunidade para aprender e lidar com problemas e dificuldades operacionais que os astronautas poderiam encontrar em Marte. “Uma das maiores dificuldades que pude perceber foi a de cumprir as tarefas vestindo os trajes espaciais, com botas e luvas enormes”, contou a estudante à CH On-line.

Khan afirma que não passou por muitas situações complicadas enquanto esteve ‘hospedada’ na base, salvo problemas técnicos. “Durante uma expedição no deserto, meu microfone falhou e perdi o contato com a base. Mas o maior problema que tivemos foi com o sistema de força. Tivemos que passar algumas noites frias para podermos conservar energia.”

Trabalho em equipe

Para simular uma verdadeira missão a Marte, os estudantes realizaram viagens exploratórias pelo deserto com veículos especiais e usaram trajes espaciais semelhantes aos dos astronautas (foto: The Mars Society).

Já para Phillip Cunio, o tempo que passou na base o ajudou a compreender a difícil vida diária dos astronautas. “Viver em um ambiente como este me permitiu entender como é conviver tão de perto e trabalhar com outras pessoas por um longo período de tempo”, afirma o estudante. “Aprendi a desenvolver bem as pesquisas trabalhando ao lado de uma equipe grande.”

Cunio afirma que o grande obstáculo enfrentado foi a dificuldade de comunicação com a equipe de apoio. “Não tínhamos telefone no meio do deserto e os correios eletrônicos demoravam muito. Mas tem um lado bom, pois o método é realista, semelhante ao que os exploradores de Marte enfrentariam”, diz.

Os dois pesquisadores pretendem se envolver em futuras missões reais a Marte. Cunio está trabalhando no projeto da criação de um pequeno veículo capaz de emitir freqüências de rádio para ser utilizado em pesquisas de campo em expedições remotas. Dessa forma, os astronautas não precisariam percorrer pessoalmente áreas extensas. Já o trabalho de Khan é voltado para a logística de viagens exploratórias para pesquisas geológicas e biológicas.

Durante o tempo em que esteve na base, Cunio descreveu suas experiências em um blog  (em inglês). O estudante também participou, com a transmissão feita por câmeras, de conferências para escolas nos Estados Unidos e Canadá.  

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
12/03/2008