Mecanização da colheita da cana traz benefício ambiental

A mecanização da colheita da cana-de-açúcar não só aumenta o rendimento operacional do procedimento como também reduz seu impacto ambiental, por dispensar a queima de resíduos. Essas observações foram apontadas em um estudo para avaliar o efeito da palha da cana sobre o uso de herbicidas, realizado pelo engenheiro agrônomo Daniel Medeiros, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), sob a orientação de Pedro Jacob Christoffoleti.

A colheita mecanizada evita a queima da camada de palha de cana (acima), adotada na colheita manual

A colheita manual da cana-de-açúcar faz uso do fogo para aumentar a eficiência da operação. Por permitir uma maior acesso à cultura, a queima da palhada (o resíduo do processo de colheita, que inclui a palha e a ponteira da cana) dobra a quantidade média de cana cortada por um trabalhador, que é de seis toneladas por dia. Apesar dessa vantagem, o processo de queima causa vários problemas, como a liberação de gases que contribuem para o efeito estufa e fuligem que causa incômodo para a população local.

Um dos principais problemas causados pela queima afeta o próprio cultivo da cana: o maior crescimento de ervas daninhas. “Quando a palhada não é queimada, como na colheita mecanizada, ela forma uma camada no solo que bloqueia a luz do sol e impede sementes de ervas daninhas de brotar”, explica Medeiros. Embora essa prática não elimine o uso de herbicidas, permite reduzi-lo significativamente. Isso diminui o custo da lavoura de cana, já que os herbicidas representam uma boa parte dos insumos utilizados. A palhada também pode ser usada para a geração de energia nas usinas. De fato, várias usinas já são auto-suficientes graças ao uso do bagaço de cana como fonte de energia.

 

A colhedora de cana pode custar US$ 200 mil e substitui o trabalho de até 80 pessoas

A colheita mecanizada tem seus problemas também, a começar pelo preço da máquina, que chega a 200     mil dólares. Em função da altura do corte realizado pelas lâminas da colhedora, o comprimento da cana pode ser menor que o obtido manualmente, o que representaria uma perda direta. Devido ao espaçamento da cultura, um dos lados da máquina colhedora roda sobre a linha de cultivo, o que aumenta a densidade do solo e leva a uma rebrota menos uniforme. Terrenos com alta declividade e certas variedades de cana também não são favoráveis à colheita mecanizada. De um ponto de vista social, a colheita mecanizada pode causar grande desemprego, já que uma colhedora é capaz de substituir 80 trabalhadores por dia.

 

Há uma lei em trâmite na Assembléia Legislativa de São Paulo que prevê uma redução progressiva (25% a cada 5 anos) na área de queimada, em favor da mecanização. No entanto, áreas com mais de 12% de declividade e propriedades com menos de 150 hectares estão excluídas da lei. Atualmente, apenas 30% da área de cultivo da cana é mecanizada.

Fred Furtado
especial para CH on-line
29/04/02